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Clássico da semana: Tucker Torpedo, o carro que (quase) não existiu

Durante os anos ´40, provavelmente não deve ter existido no setor automotivo um projeto mais ambicioso que o do visionário empreendedor Preston Tucker, que previa a criação do sedã mais moderno e seguro do mundo para a época. O projetista ficara impressionado com o apoio que o Governo norte-americano prestava aos pequenos fabricantes de carro antes da 2ª Guerra Mundial e, nesse contexto, enxergou uma bela maneira de ganhar muito dinheiro.

Rapidez e ousadia >> No finalzinho de 1946 (mais precisamente na véspera do natal), Preston Tucker firmou um insano contrato com o projetista Alex Tremulis, no qual a cláusula – única e principal – previa que em apenas 6 dias ele deveria concluir um projeto de um automóvel completamente novo. E assim foi feito. Tremulis entregou os rascunhos e artes-finais no último dia do ano para que o inquieto Tucker pudesse começar os trabalhos oficialmente em 1º de janeiro de 1947.

Revolução >> Além de um design inovador para o contexto dos anos 1940, o Tucker Torpedo sedã trazia na sua composição vários elementos inovadores que começaram a preocupar a concorrência de algumas (já grandes) montadoras da época. O projeto previa painel acolchoado, dados e instrumentações no volante (bem comuns hoje em dia), freios a disco nas quatro rodas, farol móvel na dianteira, motor traseiro de 6 cilindros em linha e para-brisa frontal escamoteável em caso de colisão.

Estilo >> O aspecto plástico do Tucker Torpedo era uma fusão de estilos, mas, é inegável que o seu desenho era bonito, com um conjunto de frente, meio e traseira que ´conversavam´ bem entre si. Os cromados apareciam em demasia somente nas grades e pára-choques dianteiros e traseiros. Na frente, três faróis (o central era móvel) faziam a diferença em relação aos outros carros e na traseira, seis canos de escapamento finalizavam a estranha composição que contava, ainda, com ressaltos na base do pára-choque.

Começo e fim bem rápidos >> Num esforço titânico, Preston Tucker tentou apresentar o carro ao público já em junho de 1947, mas o modelo não ficou devidamente finalizado. No dia do glamouroso lançamento, o carro não funcionou e ainda por cima, o protótipo reservado ao evento quebrou a suspensão! Habilidoso, Tucker fez um longo discurso para uma plateia de quase 3 mil convidados, mostrando as vantagens do novo carro. Por fim, foi aplaudido de pé tendo ao fundo um reluzente sedã que chegou ao palco disfarçadamente empurrado pelos funcionários.

 

Curiosidades >> Preston Tucker continuou tendo problemas com o projeto. O motor não deu certo, mas o empresário o substituiu por outro, um propulsor aeronáutico (de helicóptero!). No total, apenas 50 unidades foram fabricadas. Todas elas saíram em excursão fazendo enorme sucesso pelos Estados Unidos. O povo aprovou o carro, mas, infelizmente, a meteórica fábrica de Preston Tucker fechou as portas e o sonho foi, definitivamente, encerrado. O motivo? Diz a lenda que três grandes montadoras realizaram enorme lobby contrário ao ótimo projeto e conseguiram gerar um processo que culminou em acusações de fraude contra o empreendedor. Esse carro foi tão bem aceito pelo público e a história de ousadia desse homem foi tão admirada, que o cineasta Francis Ford Coppola dirigiu um filme sobre o tema real: “Tucker, um homem e seu sonho”, que tem o ator Jeff Bridges no papel principal.

Depois do fracasso, Tucker tentou construir aqui no Brasil o modelo “Carioca”, que trazia algumas ideias do próprio Torpedo, mas, infelizmente, ele morreu antes de realizar o novo projeto. I Fábio Amorim