Já faz muito tempo que as picapes foram utilizadas no Brasil apenas para transportar cargas. Por incrível que pareça, a maioria da frota desse tipo de utilitário, hoje é usada somente em ciclos urbanos, como se fosse um carro normal. Por isso, nos últimos anos, uma tendência foi adotada pelos fabricantes para privilegiar o conforto nos projetos desse tipo de veículo. É o caso da picape Fiat Toro: pronta para pegar no pesado, mas com nível de requinte equiparado a qualquer bom sedã nacional.
Liberdade de atuação >> A versão da Toro que testei é a “Freedom” (do inglês, liberdade). O modelo vem equipado com motorização 1.8 E.torQ VIS, uma unidade de 4 cilindros em linha com 1.800 cilindradas, 16 válvulas e comando variável. É o mesmo propulsor que move o Jeep Renegade flex, só que com um ligeiro aumento de potência. O conjunto doa entre 135 e 139 hp de força máxima (quando abastecido com gasolina ou álcool, respectivamente) e o pico de torque de 19,3 kgf.m é atingido aos 3.750 rpm.
Fraco ou na medida? >> Minha opinião sobre a motorização? Para andar na cidade com a caçamba descarregada, os 139 cv são suficientes. Diria até, ótimos, mas…, pela massa de 1.619 kg, essa picape merecia, no mínimo, 200 hp de força, pois saltaria de uma fraca relação peso-potência de 11,6 kg/hp para uma equação muito melhor de 8 kg/cv. É uma questão física: se você tem mais força para deslocar algum peso, o desgaste energético (consumo de combustível) será menor.
Há duas ocasiões em que isso é imprescindível: em veículos de carga e carros de corrida, esses últimos que têm de ter a carroceria aliviada para se conseguir uma melhor performance em velocidade. Essa versão Freedom da Toro custa (a partir de) R$ 81.700. Nos degraus superiores existem versões com motor a diesel de 170 cv, mais apropriado ao tamanho e peso dela.
Padrão de conforto >> É bom. Até ultrapassa isso e fica acima da média. A arquitetura interna nada deixa a desejar às outras picapes de porte maior. Essa versão Freedom que avaliei tem praticamente todos os opcionais possíveis, com exceção do teto solar.
Os bancos forrados em couro preto oferecem um lado bom e outro péssimo: são mais fáceis de limpar, no entanto, extremamente inadequados ao clima quente do nordeste. Se o sorvete da garotada cair neles… não há problema, pois um paninho úmido resolve. Mas debaixo do sol causticante, é possível ver ondinhas de calor loucas pra implantar o desconforto nas suas costas e nas pernas. Isso não é nada agradável num dia de sol em Maceió…
Bom conjunto >> No geral, o agrupamento de itens de série é bem completo: traz sistema de som fácil de utilizar, navegador na tela multimídia (muito pequena para o tamanho do painel), travas, retrovisores e vidros elétricos (com modo ´1 toque´ nas 4 janelas), assento dianteiro (do passageiro) com compartimento impermeável na parte de baixo e mimos que agradam à turma que curte o mundo tecnológico: a Toro Freedom tem duas entradas USB e mais duas tomadas de 12V, ótimos acessos para recarregar celulares e outros aparatos.
Comportamento >> A Fiat criou duas possibilidades: nas versões flex, é possível carregar até 650 kg de carga na caçamba. Já a picape movida a óleo diesel suporta 1 tonelada. Ambas têm um ajuste de suspensão inacreditavelmente adequado para não quicar mesmo trafegando descarregadas no asfalto, ou seja, o nível de conforto é quase idêntico ao de um veículo de passeio.
O câmbio automático de 6 marchas é eficiente, com mudanças rápidas e oferece recursos de trocas também nas ´borboletas´ atrás do volante multifuncional, mas, não se anime, pois, por uma questão de proteção à caixa de transmissão, o esquema eletromecânico do veículo não permite engates mais esportivos. Enfim…, a Toro está na briga e vendendo bem. No segmento específico, ela só tem a Renault Duster Oroch como oponente. Se há interesse, sugiro que teste as duas e se for comprar alguma delas, opte sempre pelo pacote que traga câmera de ré. Sem ela, o desafio das vagas poderá te trazer aborrecimentos. (Fotos: Ricardo Lêdo)
