Lançamento chinês poderá revelar comportamento inédito do consumidor brasileiro

Se há um segmento tradicionalista no universo automotivo, este é o de picapes. Há muito tempo que esse tipo de utilitário se transformou em carro de uso cotidiano para milhares de brasileiros. Mesmo as de porte médio/grande, que, obviamente, demandam mais habilidade para se guiar e necessitam de espaços muito maiores para se estacionar, ´caíram na graça´ dos consumidores, que não se importam tanto com esses detalhes incômodos da dimensão da carroceria, nem com valores dos seguros e as demais taxas de manutenção, como o IPVA, por exemplo.

A questão é que as picapes agradam ao público nacional, seja para o uso na cidade ou – principalmente – na utilização do veículo para o trabalho no campo ou mesmo em ambientes urbanos. E outra característica desse público é a fidelidade por algumas marcas e modelos. No contexto do porte compacto, a Fiat Strada tem se mostrado imbatível há mais de duas décadas, pois reúne robustez, sempre é atualizada em termos mecânicos e tecnológicos, e o principal: tem uma liquidez extremamente positiva quando na condição de veículo usado. No outro extremo, a Toyota Hilux ganha na predileção da turma do agronegócio, tanto pelos mesmos predicados da já citada Strada, com o adicional de ser, verdadeiramente, a picape mais robusta do mercado brasileiro e talvez, mundial. Fiz – pessoalmente – uma pesquisa nas cinco melhores retíficas de motores automotivos a diesel do nordeste e recebi a constatação de que a Hilux é a menos problemática em termos mecânicos dentre as picapes médias que rodam no Brasil. É a que menos quebra e quando isso acontece, a manutenção para reparos não é a mais cara. Portanto, quem é fiel à uma determinada marca de picapes aqui no Brasil, geralmente se mantém firme nessa escolha, renovando o mesmo modelo em média a cada três anos ou 160.000 km rodados. Quem – de fato – sua a camisa para comprar e manter um veículo, faz contas para avaliar consumo de combustível, preço dos pneus, troca de óleo e valores de revisões periódicas. O lançamento chinês a que me refiro no título é da BYD, marca agora já conhecida no Brasil, principalmente pela venda destacada dos seus compactos 100% elétricos Dolphin e Dolphin Mini, ambos já considerados ´cases´ de sucesso no mercado local. A marca lançou esta semana a Shark, sua primeira picape híbrida e que apresenta atributos muito aguerridos, desde um altíssimo nível tecnológico à uma concepção construtiva altamente robusta. A empresa chinesa (que está construindo fábrica no Brasil) atesta que a Shark entrega uma capacidade off-road admirável e que a missão é justamente impressionar aos consumidores mais exigentes de picapes, ou seja: além de oferecer conforto e comodidades digitais dentro da cabine, a BYD quer provar – definitivamente – com esse produto, que um veículo chinês pode suportar uso severo durante anos, inclusive em trechos frequentes ´fora da estrada´. O tempo dirá, com toda clareza, a consolidação (ou não) desse panorama. E o outro obstáculo que a BYD (e as demais fabricantes chinesas) têm a superar é a valorização (ou a não depreciação) dos seus produtos na condição de carros usados, coisa que a Strada, a Hilux, a Ranger, a S-10… dentre outras, já possuem com larga folga. O mercado trará todas essas respostas. (Fotomontagem: Agência FBA / Instagram: @acelerandoporai.com.br)