buru-rodas

A diversão de guiar um carro perdeu espaço para o caos urbano

Uma sugestão de amigo: se você for sair no seu carro para algum compromisso, faça isso com uma antecipação exagerada. Volte aos tempos antigos: leve um livro, procure saber se existe alguma cafeteria por perto de onde ocorrerá o seu encontro, compre uma revista ou um jornal impressos (sim, eles ainda existem!), enfim, arrume uma maneira de chegar ao seu objetivo bem antes do horário marcado. Desse jeito você estará colaborando com a paz do planeta e vai livrar o seu corpo inteiro do famigerado stress, inimigo tão comum hoje em dia.

Os tempos estão sombrios… e o comportamento no trânsito, com muita probabilidade, é o termômetro mais assertivo para se medir a boa ou a má educação de um povo. As aberrações ao volante – e, principalmente, ao guidão – estão por todos os lados! O Brasil está virando uma Índia quando o assunto é bagunça no trânsito.

Descrevo aqui – só pra você ter ideia do caos – a minha última passagem de carro pela Avenida Fernandes Lima, via que é considerada a ´espinha dorsal´ do conturbado trânsito de Maceió, capital alagoana. Vamos lá de carona comigo! Um motoqueiro irresponsável vem na contramão; outro, em movimento, manipula a tela do celular… Mais um motoqueiro agita o mundo. De propósito e sem motivo, só pra contrariar, quebra o silêncio ´cortando giro´ da sua moto barulhenta. Um idoso (muito idoso) tenta, em vão, mudar de faixa, mas não consegue: o medo o impede. Ele dá a seta para a esquerda, tenta, persiste mais um pouco, tenta outra vez e não encontra espaço. Uma moça num carro cor de prata e com um bebê na cadeirinha no assento traseiro, tenta a mesma coisa. Ela apenas quer passar de uma faixa para a outra, mas a manobra é assustadora, perigosa, quase impossível. Ela tenta e tenta e tenta! Mas alguém acelera, só pra atrapalhar, impedindo a ação da mulher. Se há um lugar sem noção de camaradagem e respeito ao próximo, esse é o trânsito brasileiro. Sigo no meu rumo, devagar, no lado direito da via, coladinho na tal ´faixa azul´. Ônibus passam em alta, taxistas, idem. A placa indica velocidade máxima de 60 km/h, mas os veículos trafegam como aviões em decolagem! Ninguém é multado? Um motoqueiro agoniza no chão com fratura exposta. A ambulância do SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) se apressa em imobilizar o insano motorista que passou voando pelo corredor entre os carros, na sua pressa enlouquecida em busca de uns trocados a mais pela produtividade das suas entregas de comida. A estratégia não deu certo: passará meses afastado do seu ofício. Não aprendeu a guiar uma moto com responsabilidade. Talvez nem seja habilitado. Alheio a tudo, um desajeitado malabarista com três pedacinhos de madeira na mão, atrasa o fluxo do semáforo… Para finalizar a visão do inferno que tive o desprazer de presenciar, um enorme caminhão estacionado na contramão serve de base para uma poda de árvore às 16 horas de uma sexta-feira congestionada e enlouquecedora. Ninguém merece uma provação dessas!

Repito o conselho feito no início desse texto: se for sair de casa dirigindo o seu carro para qualquer compromisso, faça isso com uma antecipação exagerada. Caso contrário, o stress vai tomar conta de todas as suas células, você vai xingar gerações de motoristas desconhecidos e vai perder muitos fios de cabelos por causa da raiva. “É pau, é pedra, é o fim do caminho…” Para sobreviver a tudo isso, só mesmo escutando Tom Jobim em alto e bom som, para filtrar essa indigesta realidade nacional. (Imagem: Microsoft Designer Creator IA / Instagram: @acelerandoporai.com.br)