Se tem uma coisa capaz de partir ainda mais um coração já dilacerado por um rompimento, essa coisa é uma sofrida música sobre… rompimentos. Mas quem disse que isso é, necessariamente, ruim? Pesquisas revelam que ouvir canções melancólicas é um remédio amargo para o mal de amor, que funciona. É aqui que o tempo no carro pode servir como uma terapia sobre rodas. Então, feche os vidros, ligue o ar, coloque sua playlist e vamos às lágrimas!
“Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir
Se, ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir.”
“Eu te amo”, de Chico Buarque, com a melodia de Tom Jobim, é a minha escolha para uma sangria desatada. E você, qual trilha sonora escolhe para o luto do amor, para a morte dos sonhos e da imagem que você tinha de si mesmo aos olhos do outro? Qual canção te acompanha na sensação de não saber para onde ir, depois de ter dado tanto de si a um relacionamento?
Pé na bunda dói >> A dor da rejeição é universal e ela dói, literalmente, na carne. Segundo Edward Smith, neurocientista cognitivo da Universidade de Columbia, a rejeição amorosa ativa as mesmas áreas cerebrais da dor física. “Quando as pessoas dizem ´estou sentindo dor por causa desse término´, não devemos trivializar isso”, explica Smith. Soltar clichês como “vai passar”, “você vai conhecer uma pessoa melhor”, “ele(a) não te merecia” etc. pode até ser carregado de boa intenção, mas não ajuda quem está passando pelo sofrimento.
A dor pode ser avassaladora. “I died a hundred times” (“morri cem vezes”, em tradução livre) lamentou Amy em “Back to Black”, inspirada no fim de seu relacionamento com Blake Fielder-Civil. Como descreve a psicóloga Rachel Murphy, “a dor mais insuportável é a da rejeição, especialmente pelo término de um relacionamento. A dor pode ser tangível e cruel, implacável em sua persistência e autodestrutiva em sua negatividade”. São pensamentos repetitivos, ruminantes, presentes em cada momento de vigília, cada segundo passado sozinho.
Caetano Veloso, quando se separou de Paula Lavigne (depois voltaram), compôs:
“Veio a maior cornucópia de mulheres
Todas mucosas pra mim
O mar se abriu pelo meio dos prazeres
Dunas de ouro e marfim
Foi assim, é assim, mas assim é demais também
Odeio você
Odeio você
Odeio você
Odeio”
Como a música triste ajuda a curar >> Um estudo conduzido na Alemanha revelou que ouvir música melancólica desperta sentimentos de empatia, compaixão e um desejo de conexão genuína com os outros – elementos psicologicamente curativos. Além disso, essa experiência nos faz perceber que não estamos sozinhos no sofrimento. Se fosse o contrário, não teríamos letras como essa, interpretadas com tanta profundidade por Adriana Calcanhoto:
“Rasgue as minhas cartas
E não me procure mais
Assim será melhor, meu bem
O retrato que eu te dei
Se ainda tens, não sei
Mas se tiver, devolva-me.”
Quem nunca pediu um retrato de volta? A música triste ajuda a tirar o foco da preocupação consigo mesmo, potencialmente levando a uma perspectiva mais ampla. Outro experimento da Universidade de Kent revelou que quando as pessoas estavam sentindo tristeza, ouvir música que era “bonita, mas triste”; melhorava seu humor, especialmente quando aceitavam conscientemente a realidade de sua situação.
Carroterapia >> O carro oferece algo que, muitas vezes, não encontramos em outros espaços: privacidade. Nele, podemos expressar emoções sem julgamentos, cantar no volume máximo, chorar sem reservas ou simplesmente respirar fundo enquanto dirigimos. Aqui estão algumas maneiras de transformar seu tempo ao volante em uma ferramenta de cura para o coração partido:
- Crie uma playlist intencional >> Comece com músicas que permitam que você sinta completamente sua tristeza. Estudos mostram que abraçar sua situação emocionalmente – aceitar a realidade como ela é – estimula a cura e o crescimento.
- Chore >> Não importa se seu carro não tem insufilm. O choro é essencial para a liberação de sentimentos reprimidos, para processar experiências e traumas, permitindo que você se reconecte consigo mesmo e se liberte do peso emocional acumulado.
- Permita-se sentir completamente >> Segundo pesquisa da Universidade de Kent, o poder curativo da música triste funciona melhor quando você conscientemente assume o que está sentindo. Seja honesto consigo.
- Progrida para o esperançoso >> Gradualmente, inclua músicas que despertam esperança e força. Pesquisas da Universidade de Boston indicam que uma perspectiva esperançosa promove maior bem-estar emocional.
A estrada à sua frente é uma metáfora dessa superação. Curvas. Subidas e descidas. Horizontes – nem sempre mais claros, mas horizontes. O caminho segue, a vida segue. Apesar de desafiadora, a experiência nos permite crescer. Ensina sobre resiliência e a transformar a perda em força para seguir em frente, renovados. (Imagem: Microsoft Designer Creator IA / Instagram: @acelerandoporai.com.br)