2035: uma odisseia elétrica que talvez seja matematicamente inviável…

Já dizia assim a minha saudosa avó Lucila: “Devagar, que o santo é de barro…” Esse antigo adágio popular se traduz na palavra ´comedimento´, que é o que se deve ter na vida em quase todos os aspectos. Estou escrevendo essas coisas para lembrar da meta estipulada pela União Europeia, numa conversa entre líderes dos países mais importantes daquele continente, e que começou ainda no início dos anos ´2000. À época, o papo determinou que “a partir de 2035 todos os carros produzidos fossem livres de emissão de CO2”. Em tese: absolutamente todos os veículos teriam de ser movidos pela força de baterias elétricas ou por algum combustível inofensivo ao meio ambiente, que nos chegasse, talvez, por intermédio de algum extraterrestre.

Tudo muito bonitinho no papel, na foto e nas boas intenções políticas, só que, à medida que os anos passam, esse pacto mostra-se cada vez menos factível, sem muitas chances de ser atingido em sua plenitude. Conforme já se sabe, os carros de passeio e até automóveis de grande porte são sempre apontados como os maiores vilões da poluição. Quase sempre se esquecem das gigantescas frotas (civis e militares) de aviões, navios, helicópteros e milhares de trens movidos a óleo diesel. Sem esquecer da quantidade enorme de usinas termelétricas que também queimam diesel (ou madeira!) para gerar energia elétrica. Existem vários países da União Europeia que continuam firmes em suas convicções para 2035, inclusive com proibição explícita de motores a combustão funcionando nas grandes capitais. Eu só quero ver como será possível manter o reabastecimento de alimentos, bebidas e insumos básicos em gigantes como Berlim ou Paris, por exemplo, somente usando veículos elétricos em tão pouco tempo. A “simpática” meta tem se tornado uma dor de cabeça para os mesmos líderes que a propuseram. O problema se avolumou de uma forma tal que a própria Alemanha junto com a Itália, encabeçaram um pedido de revisão dessa data. Vale lembrar que a Alemanha é um dos precursores no desenvolvimento de combustíveis sintéticos e está firme (assim como o Chile aqui na América do Sul) na viabilização desse produto que é quase 90% menos poluente que os combustíveis de origem fóssil. Dentro desse contexto, uma nova questão começou a ser discutida recentemente: caso haja – de fato – um crescimento sólido da procura por veículos 100% elétricos, desde motos, carros de passeio, utilitários, tratores, ônibus e caminhões, não haverá cobre suficiente no mundo para atender essa demanda. Num veículo elétrico pequeno, por exemplo, são necessários em média 59 kg de cobre na composição da bateria. Existem minas de cobre já descobertas e à espera de liberação de licenças para serem exploradas, só que alguns países como Estados Unidos e Panamá, por exemplo, estão proibindo esse tipo de atividade para evitar danos à natureza. Se a febre elétrica for adiante, segundo dados do Fórum Internacional de Energia, serão necessárias quase 60% de minas de cobre a mais, além das que já existem em atividade para suprir a demanda. Em resumo: nos próximos 30 anos a indústria teria que extrair mais cobre do solo do que aquilo que já foi feito em toda a história da humanidade. Portanto, os líderes europeus engravatados terão – obrigatoriamente – que rever essa tal meta 2035, já que o buraco da mina de cobre é bem mais embaixo… (Fotomontagem: Agência FBA / Instagram: @acelerandoporai.com.br)