Os atuais ´sites de busca´ confirmam aquilo que já estava escrito desde os anos ´1970 no meu velho mapa de papel elaborado pela Revista 4 Rodas: o início da rodovia BR-101 começa na cidade de Touros, interior do Rio Grande do Norte e termina no município de São José do Norte, lá no longínquo Rio Grande do Sul. A pista que atravessa 12 Estados possui exatamente 4.650 quilômetros de extensão. Em recente viagem de carro, saí de Maceió (AL) rumo a Salvador (BA). Seguindo a BR-101, são 581,4 km que, se percorridos dentro dos limites de velocidade das placas e das centenas de radares, devem ser completados em quase 8h e 45 minutos. E foi praticamente esse tempo que levei para fazer o meu trajeto. Se vale um bom conselho, eu digo: vá de avião. Em 45 minutos você estará na bela terra do Senhor do Bonfim, sem sustos e já pronto para tomar a primeira cerveja gelada, longe da ´Lei Seca´!
É muito triste perceber que, no Brasil, a verba pública ou seja, o dinheiro dos pagadores de impostos, é mal aplicado e quase tratado com desdém. A BR-101 foi projetada nos anos ´1950, mesma época em que começou a ser construída. O projeto político de expansão comercial por terra, exigia isso. Inicialmente, foi toda feita em ´mão dupla´, pois atendia a demanda, já que o fluxo de veículos era baixíssimo em relação aos dias atuais. Somente trinta anos depois, os problemas já começaram a surgir com preocupante intensidade e o Brasil tornou-se um dos campeões mundiais em acidentes de trânsito. Alguns trechos da BR-101 no Estado de Alagoas são cenários perfeitos para um filme de terror. O primeiro deles é a velha ladeira que surge de um extenso platô que vem do litoral, chegando até São Miguel dos Campos. O trevo é totalmente escuro e o acesso ao vale miguelense (que passa em frente à Usina Caeté) continua – há anos – sem ser duplicado… Bem mais adiante (nas imediações dos municípios de Teotônio Vilela e Junqueiro), aquilo que é uma pista de mão única, torna-se, repentinamente, uma via de trânsito duplo: prato feito para uma colisão frontal! Os acostamentos são péssimos com placas escondidas pelo matagal, assim como a sinalização é extremamente deficiente e não há desníveis programados para o escoamento da água da chuva. Sem falar da inexistência da iluminação ou de postos avançados de socorro. Mas esse panorama fantasmagórico não se resume a Alagoas, já que as deficiências se repetem em Sergipe e na Bahia. Vale lembrar que em 2007 foram iniciadas as primeiras conversas sobre as obras do PAC (programa de aceleração do crescimento). Entre licitações, burocracias absurdas e pouquíssimas iniciativas políticas, o pedaço bilionário do PAC destinado às rodovias somente começou a funcionar, de fato, a partir de 2012.
Não estou falando aqui sobre obras nos níveis de excelência da suntuosa rodovia ´A1A´ nos EUA ou das perfeitas Autobahn´s alemãs, mas o Brasil merecia um pouquinho mais do que uma pífia reforma e uma ampliação mequetrefe da BR-101. Nosso país cresceu. Os caminhões estão maiores e, portanto, muito mais pesados. A BR-101 e a BR-116 deveriam ser 100% demolidas e refeitas atendendo aos modernos padrões de segurança e adequação ao novo fluxo de frota do Brasil. Mas, sinto que sonhar com isso chega a ser uma aspiração esdrúxula, uma piada de péssimo gosto. Como dizia o velho sambista Bezerra da Silva: “Para tirar meu Brasil dessa baderna / Só quando o morcego doar sangue e o saci cruzar as pernas…” (Fotos: acervo pessoal / Instagram: @acelerandoporai.com.br)