A seda e o chá chineses, os veículos de plástico e as verdades duras de engolir…

De vez em quando alguém pergunta sobre a minha opinião em relação aos carros elétricos. Se eu compraria, como funciona a manutenção, o que eu acho sobre a questão da desvalorização e outras coisas… Respondo que ainda não me interesso por um veículo 100% elétrico pelas mesmas razões que a maioria das pessoas têm: primeiro, porque não existe infraestrutura suficiente nas estradas e em importantes pontos urbanos que permitam um uso tranquilo do veículo, ou seja, meios que eliminem aquele medo de ficar no olho da rua por causa de uma bateria descarregada. Eu gosto de viajar de carro e, no Brasil, isso ainda não é totalmente viável. Em segundo lugar, ainda não dá para se medir o nível de liquidez de um veículo 100% elétrico na condição de ´usado´ aqui no país. Pelas minhas contas, isso somente será uma condição perceptível em 2028, quando teremos algumas unidades já bem rodadas e expostas à venda nas lojas de seminovos. E, anote aí: quem vai dizer com total assertividade se um elétrico usado vale algo ou não vale nada, serão os comerciantes de carros usados. Nenhum ´especialista´ sorridente nas redes sociais será capaz de afirmar argumento sólido ao contrário.

O ´mercado´ (que é uma entidade invisível, mas orgânica, pois é feita de pessoas que ainda assinam promissórias em bancos) é quem traçará o destino de um carro elétrico moderninho e já surrado. Uma picape Fiat Strada com 250.000 km rodados e 10 anos de uso, por exemplo, possui a sua cadeira cativa no mercado de usados. Um 100% elétrico e repleto de tecnologia digital, terá a mesma sorte? Vamos aguardar até 2028, que será o ano da definição, a meu ver. E não dá pra falar de carros elétricos sem citar a China. Em ordem alfabética, quatro marcas de lá estão agitando o mercado global: BYD, Changan, Chery e Geely. É bom lembrar que a indústria automotiva chinesa nasceu na mesma época em que o Brasil também começou nesse ramo: anos ´1950. A diferença é que o nosso país manteve-se como uma mera filial de multinacionais, reproduzindo projetos de fora. Os chineses, após imitar e tentar à exaustão, conseguiram se estabelecer como ótimos fabricantes. Ao contrário, a indústria brasileira manteve-se – por décadas – acomodada, ofertando carros com péssimo nível de segurança e com acabamentos pífios. Houve uma reação a partir dos anos ´2000 com a enxurrada de carros importados que chegaram por aqui. Mas a coisa não evoluiu tanto assim. Os chineses, sim, foram além e estão entregando produtos incrivelmente bem feitos, robustos e com garantias enormes. Também me perguntam sobre concorrência desleal. Ora bolas… qualquer pessoa alfabetizada e minimamente atenta ao contexto sócio-político mais básico, sabe que a China – apesar do rótulo de país comunista – é um gigante capitalista com fome voraz. A Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotivos) divulgou no último dia 12/6, um informativo à imprensa comunicando que, nesse momento, há uma reclamação formal ao governo chinês sobre os chamados “subsídios injustos que geram uma ameaça para a indústria europeia de veículos”. A ação foi feita pela Comissão da União Europeia, que, baseada em normas da Organização Mundial do Comércio, exige uma concorrência mais justa. O governo em questão ainda não se pronunciou. Enquanto isso, a vida segue com novos veículos chineses chegando às lojas, enchendo os olhos dos consumidores por causa dos preciosos detalhes de acabamento que, além de servirem de argumento sólido de venda, expõe a qualidade inferior da concorrência com seus produtos locais. Na era da IA (inteligência artificial) e da presença da domótica na vida das pessoas, jamais na história automotiva, o preciosismo da seda e do chá chineses, impressionaram tanto… (Fotomontagem: Agência FBA / Instagram: @acelerandoporai.com.br)