A nova onda (ou ´revolução´) dos veículos elétricos, enfrenta desafios cruciais para o seu estabelecimento definitivo nos mercados mais importantes do mundo. No Brasil, pela dimensão geográfica continental, um dos ´calcanhares de Aquiles´ é a infraestrutura de recarga nas estradas, que possibilitaria, além dos carros de passeio, que os caminhões elétricos conseguissem transitar entre Estados e regiões. No ambiente urbano, parece que novas soluções estão surgindo mais rapidamente, caso do Reino Unido, por exemplo, que começará a transformar as tradicionais cabines telefônicas públicas vermelhas em pontos de recarga para veículos elétricos. Há cerca de 60 mil delas por lá.
Voltando ao Brasil, os veículos híbridos plugáveis e os 100% elétricos, estão começando a ocupar garagens de prédios residenciais com um crescimento significativo desde 2021 pra cá. Eis uma primeira questão: condomínios antigos não foram projetados para receber veículos eletrificados. Os chamados ´wall boxes´ (caixas de parede) estão surgindo grudados nas pilastras dos edifícios como gafanhotos no deserto, gerando sobrecargas na rede e desavenças entre vizinhos. Isto já é uma realidade ainda pouco comentada. Construções novas (residenciais e comerciais) já estão se adaptando ao momento, mas não contemplam tomadas em 100% das vagas. O ciclo é amplo: os carros têm pacotes pesados de baterias (cerca de 500 kg) que necessitam de muita energia para a recarga. As companhias elétricas têm o complexo desafio de rever suas capacidades de entrega para atender às novas demandas. Essas mesmas companhias precisam de projetos inéditos e novos equipamentos para poder trabalhar com uma distribuição exata. Como se percebe, existe a interação mecânica e de ´inteligência´ trabalhando juntas o tempo todo. Da mesma maneira que a secular indústria automotiva a combustão (visualize aqui, além dos automóveis, os trens, aviões, navios e usinas termoelétricas) conseguiu criar um vínculo quase perfeito entre fabricantes, fornecedores de combustíveis + postos de reabastecimento e oficinas de reparação, o novo conglomerado da mobilidade elétrica terá, necessariamente, que inventar um jeito eficaz de convívio nos mesmos moldes, com o adendo de criar soluções de operações conjuntas entre empresas privadas (fabricantes de carros, peças, etc) e instituições públicas (fornecedores de energia, firmas de manutenção de pontos de recargas). E o ponto fulcral dessa equação é o compartilhamento de dados entre toda a cadeia. O mundo dos transportes, da energia e da infraestrutura terá que funcionar em parceria, sob pena de sucumbir na missão. Os próprios veículos eletrificados poderão fornecer preciosos dados e muitas informações sobre comportamento ao volante, frequência de recarga, quilometragem anual, dentre outras minúcias fundamentais para essa engrenagem de cooperação. Acredito que até a indústria da construção civil terá que participar desse grupo ligado à mobilidade elétrica. O tempo dirá se a torrada vai sair do forno no ponto certo ou se a receita queimará… (Fotomontagem: Agência FBA / Instagram: @acelerandoporai.com.br)