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Conflito de desejos: aquilo que você quer e o que você pode usar no seu carro

Nos últimos cinco meses, três horríveis acidentes de trânsito chamaram a atenção das autoridades e da sociedade aqui no Brasil por causa de algumas similaridades: colisões que resultaram em mortes e a presença da marca alemã Porsche em todas as ocasiões. O primeiro caso aconteceu em São Paulo no dia 31 de março deste ano quando o motorista de aplicativo Ornaldo Viana recebeu uma batida na traseira do seu carro. O Porsche que causou o sinistro vinha a exatos 156 km/h, numa via aonde a velocidade máxima permitida é de 50 km/h.

O segundo episódio aconteceu na madrugada do dia 29 de julho de 2024, quando o motociclista Pedro Ventura Figueiredo (21 anos) foi perseguido e, finalmente, atropelado e morto por um motorista de 27 anos. Matérias jornalísticas divulgadas horas depois do acidente relatam que a motivação para esse crime ocorreu por causa de uma briga no trânsito.

O terceiro acidente ocorreu na semana passada (1º de agosto) num trecho da BR-116 em Teresópolis (RJ), onde mais um Porsche modelo Boxer atropelou e matou Adilson de Lima (47 anos). Nesse caso específico, a polícia ainda tenta descobrir quem, de fato, dirigia o esportivo no momento da colisão, pois no documento de propriedade do veículo consta o nome de uma pessoa, mas quem se apresentou na 110ª Delegacia de Polícia Civil de Teresópolis não tem a mesma identidade. Detalhes técnicos deverão ser esclarecidos pela polícia civil brasileira; os resultados nós somente saberemos no futuro.

Como já comentei em outras ocasiões, em 100% dos acidentes de carros, motos, aviões, trens, navios etc, sempre estão presentes os conhecidos “três is” (ou pelo menos um deles): imperícia, imprudência e inatenção. Preocupada com a sua imagem, a Porsche – por intermédio da sua representação no Brasil – chegou a divulgar nota esclarecendo que “não possuía vínculo algum” com o motorista do segundo caso que destaquei acima. No comunicado, a fabricante também enfatiza que promove eventos em locais fechados (circuitos de corrida), justamente para que os condutores dos seus velozes modelos possam desfrutar daquilo que os motores têm condição de entregar, dando vazão à fissura de pisar fundo no acelerador. Isso é uma atitude até louvável, mas não impede a brutalidade de quem dirige de maneira irresponsável em ruas públicas.

A questão vai mais além, pois envolve educação doméstica, “freios” morais estipulados por pais que souberam ensinar o caminho da ética e do bom convívio social aos seus filhos, ou seja, limites parentais que influenciam na vida de uma pessoa que no futuro pode chegar a dirigir um veículo, seja ele um Porsche novinho em folha ou um velho Fusquinha caindo aos pedaços. A boa índole e o senso de responsabilidade e preocupação com o ´outro´ é que vão distinguir entre motoristas pacatos e prudentes dos imbecis ao volante.

Infelizmente aqui no Brasil, as punições para casos como esses são brandas e, às vezes, os causadores das tragédias não passam, sequer, um dia privados de liberdade. Se você quiser se aprofundar nesse tema, pesquise sobre um movimento chamado ´Não Foi Acidente´, que reúne vítimas de trânsito, familiares e amigos que sofreram (e sofrem) por causa da irresponsabilidade alheia. Não somente modelos da Porsche, mas existem outros carros extremamente rápidos que conseguem sair da imobilidade atingindo os 100 km/h em menos de 5 segundos. Esse intervalo é mais do que suficiente para aniquilar a vida de alguém no trânsito, caso a condução seja feita de uma maneira inconsequente. Além disso, vários esportivos de hoje ultrapassam os 300 km/h de velocidade final! Tudo isso num ambiente aonde não se consegue passar de 60 por hora por causa dos congestionamentos caóticos e das próprias limitações estipuladas pelas legislações de trânsito. O problema, novamente eu digo: não é do Porsche, mas de quem está atrás do volante com o seu instinto assassino aflorado, seu egoísmo ilimitado e com a certeza da impunidade na mente. (Imagem: Microsoft Designer Creator IA / Instagram: @acelerandoporai.com.br)