O alto poder da produção em larga escala contra a ilimitada ousadia asiática

Uma das notícias mais comentadas esta semana foi o anúncio da Stellantis – conglomerado que detém as marcas Abarth, Alfa Romeo, Chrysler, Citroën, Dodge, DS, Fiat, Jeep, Lancia, Maserati, Opel, Peugeot, RAM e Vauxhall – confirmando a chegada ao mercado brasileiro de outra empresa que é sua associada em ´joint venture´: a Leapmotor, uma fabricante chinesa de carros elétricos. A ação faz parte de um pacote de investimentos recentemente anunciado para o fortalecimento das operações da Stellantis no Brasil, que é um dos mais rentáveis ambientes de negócios automotivos do mundo.

O panorama conhecido até agora mostra que a Stellantis (via Leapmotor) tem a intenção de atuar em dois nichos extremos no segmento de carros elétricos: o primeiro seria o ´T03´, um hatch compacto e 100% elétrico que poderá concorrer com o JAC e-JS1, Chery iCar, Renault Kwid E-Tech e, principalmente, BYD Dolphin Mini. E o segundo, o C10, um SUV também 100% elétrico, com porte médio equiparado em tamanho a um Jeep Commander. Evidentemente, esse movimento tardio da Stellantis significa um contra-ataque bastante direcionado às marcas chinesas BYD e GWM, empresas em via de consolidação no mercado nacional pelas excepcionais atuações recentes de vendas. A Stellantis tem a seu favor o alto poder de produção em larga escala, cofre abarrotado de dinheiro, tecnologia compartilhada com a sua parceira chinesa e também a possibilidade de utilizar o prestígio e a abrangência da sua grande rede de concessionárias no Brasil das marcas Fiat, Jeep, Peugeot e Citroën, que podem tornar-se – também – novos revendedores Leapmotor como franqueados preferenciais. Isso seria uma opção para aparecer bem no mercado já no momento da largada. A outra, seria revender os modelos da Leapmotor com chancelas já conhecidas na grade e na tampa do porta-malas, coisa bem comum há tantas décadas, ou seja, teríamos, por exemplo, um ´Leapmotor T03´ disfarçado de Fiat. Isso poderia dar certo, pois atrelaria uma novidade à credibilidade de uma marca famosa, porém, esse último detalhe esbarra numa tendência de mercado fortíssima, que é a procura dos consumidores por novidades ´moderninhas´. A fidelidade à uma ou outra marca, parece que já não existe mais, e a busca e compra por um carro 100% elétrico, hoje mais se assemelha à escolha de um smartphone. As pessoas querem saber minúcias do conteúdo tecnológico, inclusive, da próxima geração do carro. Exatamente assim está o mercado dos eletrificados, com clientes questionando a ampliação da autonomia, tempo de recarga, custo por quilômetro rodado e amplitude das garantias e outros detalhes que chegarão ´no próximo face lift´, ou, no caso, na mais imediata atualização de software que o sistema solicitar. Paralelo a tudo isso, há a atuação do Estado chinês como um ousado jogador, feroz e faminto por cada naco de mercado que puder conquistar globalmente. Ele, assim como a Stellantis, tem uma gigantesca capacidade de produção em larga escala que traz, em primeiro plano, a diminuição de custos de fabricação. O contexto que era infinitamente mais favorável ao lado ocidental até o final dos anos ´1990, agora mede forças quase iguais num cabo de guerra corporativo equilibrado e sem favoritos para a vitória. (Fotomontagem: Agência FBA / Instagram: @acelerandoporai.com.br)