Quem me conhece, sabe que detesto andar de carro sentado no banco do passageiro. Isso acontece porque adoro guiar veículos motorizados e, em segundo lugar, sinto-me inseguro em não estar ao volante. Sempre fui prudente, conduzindo com atenção para evitar acidentes e jamais me envolvi numa colisão grave. Dirigir, portanto, é uma atividade que me dá prazer, que vai além da simples mobilidade.
E pouquíssimos foram os condutores que me proporcionaram a confiança de reclinar o banco do passageiro para tirar um cochilo durante uma viagem. Dentre eles, o mais competente que conheci ao volante de um carro: Luís Eduardo Pereira Lima, o ´Lula Picolé´, fraterno amigo de infância que, infelizmente, já partiu dessa vida muito jovem. Picolé tinha uma impressionante destreza para conduzir todos os tipos de veículos, desde os carros de passeio, passando por jipes, motos, picapes e até caminhões. Até nas embarcações ele se destacava, principalmente, pelo aguçadíssimo senso espacial, que incluía uma exata noção de tempo para abrilhantar uma manobra que arranhava a irresponsabilidade; e a percepção concreta de dar continuidade ao perceber que a sua ousadia não iria machucar ninguém. Certa vez, eu vinha com ele a bordo de um Ford Del Rey Scala na famosa (e extinta) ´curva do cotovelo´ no bairro de Pajuçara, em Maceió (AL). Vínhamos tranquilos quando fomos surpreendidos por um caminhão FNM na contramão! Com uma agilidade impressionante, Picolé deu um puxão para a direita, nos livrando de uma colisão frontal que poderia ter sido fatal. Perceba o seguinte: em quase 100% dos casos, qualquer motorista puxaria o carro para a esquerda, pois esse é o reflexo humano mais comum. O astuto gordinho fez o que poucos fariam: pensou ao contrário. Em outra ocasião no fim dos anos ´1980, numa viagem ao Rio de Janeiro a bordo de um Passat GTS, após uma curva com angulação invisível, o asfalto de parte da ´BR 101´ simplesmente sumiu dando lugar a um escorregadio pavimento de cascalho. Sem frear o carro, apenas diminuindo a velocidade, o infalível Lula Picolé controlou o Volkswagen esportivo que ´sambava´ de um lado para outro. Incrédulo e aliviado, meu irmão Jorginho estava a bordo e até hoje lembra desse feito. Meu saudoso amigo Luís dominava um automóvel como ninguém! Me recordei dele esta semana ao voltar pra minha casa num ´carro de aplicativo´ aonde o condutor era o avesso de tudo isso: inseguro, inábil, inepto, sem noção de espaço e tempo, quase que completamente incompetente para dirigir um carro. Não sabia mudar de faixa com segurança, passou em dois sinais quase fechando, não mantinha distância do carro à sua frente e, para completar o pacote, tinha o ´pé gago´, ou seja, não conseguia manter uma velocidade constante sem oscilar o tempo todo. Além disso, executava as frenagens em 24 prestações, quase me fazendo nausear. Pegamos um congestionamento infernal e, por causa disso, sofri esse tormento por quase 40 minutos. Eu me angustiava internamente, louco pra chegar em casa. Quando desci daquele maldito veículo, fiquei pensando sobre como aquele sujeito havia conseguido a sua CNH… Sorrindo, eu repetia mentalmente: “ – Gordinho, você viu aquilo?!” (Foto: acervo pessoal / Instagram: @acelerandoporai.com.br)