Por que será que as marcas tradicionais não ´decolam´ nas vendas dos carros elétricos?

Conhecidas montadoras anunciaram, há poucos anos, que consolidariam – em curto tempo – a transição dos seus portfólios a combustão para veículos 100% elétricos. Volvo, Mercedes-Benz, General Motors, VW, Ford, dentre outras, chegaram até a fixar metas ousadas para isso. Os anos de 2030 e 2035 surgiram como marcos bonitinhos e ecologicamente corretos para o limite da fabricação de motores térmicos. Mas, o panorama não aponta para esse norte… Pelos gráficos de vendas, percebe-se que a tal transição global para os veículos 100% elétricos não acontecerá tão cedo.

A maior prova desse freio de mão puxado está explícita na revisão das metas de quase todas as empresas tradicionais do ramo automotivo. A GM diminuiu a sua produção de eletrificados, a Ford, mesmo após conseguir a liderança das picapes com a versão elétrica F-150 Lightning, agora concentra-se em híbridos; Volkswagen não consegue firmar vendas consistentes da sua linha ´ID´, mesmo entregando boa tecnologia; a Volvo já percebeu que precisará manter motores térmicos para atender demandas que necessitam de autonomia mais extensa e os números de vendas da linha elétrica EQ da Mercedes-Benz não são nada animadores. Ponto principal: todas elas, sem exceção, sofrem por causa da concorrência chinesa.

Só para se ter uma ideia desse contexto, observe esse comparativo entre SUVs médios. Aqui no Brasil é possível adquirir um Haval H6 (híbrido plug-in da chinesa GWM) por R$ 280.000. Já a versão híbrida do Jeep Compass (chamada de Compass 4xe) é ofertada por – inexplicáveis – R$ 347.300, ou seja, com uma diferença de R$ 67.300! Esse montante é bem significativo e o veículo chinês entrega mais autonomia no modo puramente elétrico, um pacote tecnológico impecável e padrão de acabamento e conforto, idem. Evidentemente, a incidência de impostos é um ponto culpado pelos altos preços dos veículos no Brasil, mas, lembremos que os carros chineses chegam importados debaixo de uma chuva de taxas e outros tantos impostos bem amargos. Entre esses dois, o número de unidades vendidas do Haval H6 é avassaladoramente maior que o concorrente de origem norte-americana.

Mas, qual a razão disso? O modelo da Jeep também é interessante e tem boa tecnologia, mas a marca só tem tradição em automóveis originalmente parrudos, que suportam tranco dentro e fora do asfalto e queimam gasolina ou óleo diesel. Jeep é sinônimo de força. Sempre foi e isso é um ponto positivo. Por outro lado, as marcas chinesas estão provando na prática que entendem mais desse ramo de eletrificação. Consumidores olham para os veículos híbridos e, principalmente, 100% elétricos, como se eles fossem um smartphone. Observam o design e se agradam com o aspecto futurista do interior, por exemplo. Nesse aspecto, os carros chineses sobram em qualidade, ante ambientes jurássicos oferecidos por marcas tradicionais.

No momento, a luta principal das montadoras não é apenas ganhar mais mercado e, sim, ao menos manter-se num patamar de mínimo equilíbrio para não serem rebaixadas no ranking. Todos estão sofrendo, mas, as marcas novatas e que já nasceram dentro desse moderno propósito digital, estão nadando com mais fôlego. Somente mais um exemplo para concluir: Xiaomi (fabricante chinesa de eletrônicos e outros tantos eletrodomésticos) agora também produz automóveis. Ela está com dificuldade de atender a tantos pedidos e compras já efetuadas do seu primeiro modelo, um esportivo 100% elétrico de nome ´SU7´. Já a alemã Audi, criou somente para o mercado chinês de carros elétricos, a nova marca ´AUDI´ (grafada sempre assim, com letras maiúsculas), para tentar conquistar jovens clientes abastados.

Como as coisas se desenrolam com extrema rapidez hoje em dia, em breve teremos um panorama ainda mais claro dessa enigmática crise automotiva atual, com gigantes agonizando e novatos sorrindo à tôa… (Fotomontagem: Agência FBA / Instagram: @acelerandoporai.com.br)