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Kardian: o que falta e o que sobra no novo SUV compacto da Renault? Confira o test-drive

Modelo tem tabela de preço a partir de R$ 112.790 e vem com motor 1.0 turbo com 3 cilindros e 125 cv de força máxima

Com o Duster e o Captur (este último, descontinuado no ano passado), a Renault do Brasil já atuava no segmento de utilitários esportivos compactos. Há menos de quatro meses voltou a figurar nesse espaço ao lançar o Kardian, um novo SUV de pequeno porte que carimba uma nova fase dessa marca francesa no país.

Como trunfo positivo, o modelo tem bonito design externo com proporções muito bem resolvidas (principalmente na dianteira), bom espaço para quatro pessoas (ele é homologado para cinco ocupantes) e o pacote tecnológico dessa versão de topo (chamada de ´Premiere Edition`) é muito completo com ACC (controlador adaptativo de velocidade), sistema de frenagem de emergência e alertas visuais de pontos cegos nos dois retrovisores externos.

Se, assim como eu, você também gosta de escutar músicas, outro destaque dessa versão é o sistema de som com ótima potência e sem distorções quando solicitado em volume mais alto. Algumas coisas me desagradaram, mas isso eu conto um pouco mais abaixo. Seguem, então, algumas fatias desse bolo confeitado em dois tons (a pintura da carroceria é complementada com o teto em preto) para que você possa se decidir na possível compra de um SUV compacto (ou não…) como diria Caetano Veloso no seu vai e vem retórico muitas vezes ininteligível, mas sempre poético.

Estilo >> Conforme já enfatizei, o design externo do Renault Kardian se configura num importante apelo de venda, já que o consumidor brasileiro leva muito em consideração os detalhes estéticos de um carro na hora da escolha. A dianteira é bastante interessante com uma divisão bem elaborada do grupo óptico em LED.

Os faróis dividem-se em dois e ainda contam com os auxiliares lá embaixo. Grade toda em preto brilhoso, traz composição muito alinhada com o estilo atual da Renault. A traseira tem lanternas muito invasivas na tampa do porta-malas. Achei exagerada (e desproporcional) a assinatura “Kardian” lá atrás.

Interior >> A arquitetura interna do Kardian não impressiona, mas também não decepciona. É um meio termo que confunde. Apesar de personalizável, o painel de instrumentos exibe um ambiente muito sem graça, com grafismos pequenos e pouca informação. Tudo muito digital e com uma comunicação visual de vídeo game dos anos ´1990. Ao lado, a tela sensível ao toque com 8 polegadas é de fácil compreensão e manuseio, mas o conteúdo gráfico também aparenta pouca modernidade.

Um ponto forte >> Para compensar positivamente a parte interna, o volante é bonito, com ótimo tamanho e excelente empunhadura. Além disso, os ajustes de altura do assento do motorista e da coluna de direção (em profundidade e altura), proporcionam excepcional posição de dirigir. Provavelmente, é o Renault mais acertado nesse sentido já fabricado e vendido no Brasil. A ergonomia é muito boa, com todos os comandos bem acessíveis às mãos, olhos e pés. Os assentos dianteiros poderiam ser um pouco mais largos.

Acabamento >> Para um veículo de R$ 132.790 (versão testada, Premiere Edition) o acabamento é coerente com o preço: muito plástico injetado nas portas e painel, bancos em tecido e alguns revestimentos que imitam couro, como ali no painel frontal (tabelieur, para os antigos…) e apoio de braço. Nem ´enche os olhos´ e nem decepciona. Está na média do Fiat Pulse (seu principal concorrente), mas bem aquém do VW Nivus.

Motorização >> O Renault Kardian vem equipado com o propulsor flex TCe 1.0 turbo com 3 cilindros, injeção direta de combustível, 125 cv de força máxima e 22,4 kgf.m de torque. O conjunto está acoplado à uma caixa de câmbio automatizada com dupla embreagem a óleo e com 6 marchas. Não acelera com empolgação, mas (novamente…) também não decepciona.

Para a sua proposta majoritária de uso urbano, movimenta bem a massa total do carro. Um pecado não ter a opção 1.3 com 170 cv. Gostei muito da solução da pequena alavanca de câmbio, uma espécie de ´joystick´ minúsculo que tem funcionamento muito prático. Na hora de desligar, basta pressionar o botão ´P´, que o veículo sai do ´D´ e é travado, inclusive com o freio de mão elétrico acionado automaticamente.

Frigir dos ovos >> O Kardian é uma boa opção a se escolher dentro do segmento de SUVs compactos. Acho que o seu único concorrente no mercado brasileiro é o Fiat Pulse (excetuando-se a ótima versão Pulse Abarth), já que o Volkswagen Nivus o suplanta em requinte de acabamento, conforto ao rodar e silêncio a bordo. Aliás, esse foi o ponto que mais me desagradou no Renault Kardian. Acima de 95 km/h, há um evidente barulho do vento entrando no habitáculo. E o problema é bem aparente: exatamente na junção das molduras superiores das portas dianteiras com a coluna ´B´ (aonde está a fixação dos cintos de segurança). Isso incomoda durante uma viagem.

Outro detalhe negativo é o consumo: sem passar de 100 km/h, rodei 1.273 km (abastecido com gasolina) e o Kardian fez, em média, apenas 11,9 km/litro. É pouco para um motor de baixo volume de cilindrada (1.000 cm³) equipado com turbocompressor. A câmera de ré é de boa resolução e o campo visual do motorista pelas áreas envidraçadas é agradável.

Como todos os carros da Renault que já testei, o Kardian também apresenta uma ´aspereza´ característica dessa marca francesa sempre ligada na esportividade. Todo Renault tem um ´pé´ na velocidade. O Kardian é acertado nas curvas, freia bem, mas tem um motor que vibra muito e uma suspensão que não privilegia o conforto. Nisso, ele perde feio para o Nivus (e empata com o Pulse, que também é barulhento). Queria o Kardian ter, por exemplo, o equilíbrio do inesquecível Renault Megane…

O cardápio é esse >> O novo SUV compacto da Renault é vendido em três configurações: Evolution (a partir de R$ 112.790); Techno (R$ 122.990) e Premiere Edition por R$ 132.790. Vem com 6 airbags e porta-malas com 410 litros de capacidade. As rodas têm aro de 17 polegadas e são calçadas com pneus na medida 205/55.

Não posso deixar de citar o antiquado comando satélite do sistema de som, que surge como uma orelha estranhamente implantada na coluna de direção. Solução esteticamente feia e inaceitável para os dias atuais. Poderia ser agregada ao volante multifuncional, mesmo que isso representasse cerca de R$ 1.000 a mais no valor total do veículo. (Fotos: divulgação Agência FBA / Instagram: @acelerandoporai.com.br)