Talvez você lembre de um lamentável episódio ocorrido em Niterói (RJ), em outubro de 2015: Francisco e Regina Múrmura (que eram casados há 48 anos) foram recebidos com rajadas de tiros ao entrarem de carro – por engano – na ´Favela do Caramujo´, região metropolitana do Rio de Janeiro. Regina não resistiu aos ferimentos e faleceu. O casal tinha como objetivo chegar até a Avenida Quintino Bocaiúva (área nobre de Niterói), mas o GPS do veículo os guiou para a ´Rua Quintino Bocaiúva´ no centro dessa favela, local de extrema violência urbana, dominado por traficantes de drogas e com o Estado ausente.
Certamente, quem configurou o GPS para se dirigir ao endereço desejado não percebeu a diferença entre as localidades com o mesmo nome. Os bairros não se repetem numa mesma cidade, mas é comum no Brasil a existência de ruas com o mesmo nome em espaços geográficos até próximos uns dos outros. Por causa disso, no caso citado, a tragédia se consumou, infelizmente. Este imperdoável assassinato aconteceu há nove anos. De lá pra cá, inúmeras ferramentas de localização via GPS (Global Positioning System ou Sistema de Posicionamento Global) foram atualizadas e melhoradas, inclusive, em termos de segurança.
Ao contrário do que se imagina, a IA (Inteligência Artificial) existe desde o início dos anos ´1940, mais precisamente 1943, quando Warren McCulloch e Walter Pitts criaram o primeiro modelo computacional para redes neurais. Nesse instante, como já é de amplo conhecimento, a IA já invadiu e continua na sua vigorosa escalada dentro de muitos segmentos profissionais, incluindo – com muita ênfase – o agonizante jornalismo, os importantes setores automotivo, aeroespacial, médico, imobiliário, bancário e tantas outras áreas. A Inteligência Artificial é, em muitos aspectos, um super ´pai dos burros´ (termo pejorativo e que já foi largamente utilizado para se referir a ´dicionário´). É certo que a IA já ajuda muito evitando erros e colaborando com o seu gigantesco cabedal de soluções e respostas para quase tudo.
No campo automotivo, a alemã Volkswagen largou na frente ao equipar seus veículos em alguns mercados com o ´ChatGPT´. Essa abreviatura significa (Generative Pre-Trained Transformer ou Transformador Generativo Pré-Treinado). O Google o define como “uma ferramenta de Inteligência Artificial que simula conversas humanas, sendo capaz de responder perguntas, criar textos, traduzir, gerar imagens ou códigos de programação”. Como eu disse, a VW está sendo pioneira nesse tipo de tecnologia, pois já associou o ChatGPT ao seu sistema de assistência de voz. Em resumo: após um comando de voz do condutor do veículo o ´assistente virtual´ utiliza a sua expertise para responder a milhares de possibilidades, desde questões do manual de instruções do carro à sugestões de rotas menos congestionadas até o destino final ou listas de estacionamentos, hospitais e restaurantes nas proximidades. Caso se esgotem as possibilidades de memória do humilde assistente de voz, entram em cena as bilhões de alternativas de respostas e até sugestões da Inteligência Artificial para o ser humano muitas vezes ridículo e limitado, que ali está ao volante dependendo de um artefato tecnológico para tomar uma decisão.
Voltando ao tema inicial. De posse de tanta tecnologia, os fabricantes automotivos deveriam ficar extremamente atentos às probabilidades de enganos trágicos como o do casal baleado em Niterói, utilizando programas previamente alinhados com estatísticas policiais reais, que possam alertar imediatamente quanto aos perigos mortais presentes em muitas vias, principalmente, da eternamente subdesenvolvida e sangrenta América Latina. (Imagem: Microsoft Designer Creator IA / Instagram: @acelerandoporai.com.br)