Se incluirmos o inusitado carro de madeira com propulsão 100% humana da família Flintstones, além desse tipo de ´motorização`, teremos os cavalos e os bois, propulsores a vapor e logo depois as máquinas a combustão queimando gasolina, óleo diesel e etanol – exatamente nessa sequência. E no meio disso tudo, lá no passado, convivendo com os combustíveis de origem fóssil, a eletricidade sempre esteve presente na maioria dos inventos e possibilidades de melhoramento do cotidiano humano, incluindo aí, os automóveis. Talvez os mais jovens não saibam, mas os carros elétricos são bastante antigos. Inclusive Ferdinand Porsche criou um modelo que, como absolutamente todos da época, também foi ofuscado pelo fortíssimo lobby do petróleo.
Nesse instante os elétricos estão em alta outra vez e, tudo indica que não seja somente uma onda fraquinha de beira de lagoa e sim, tendência já consolidada. Se você ainda não experimentou dirigir ou apenas seguir como passageiro num carro elétrico, vai se surpreender por um detalhe específico que agrada em tempos neuróticos como o atual: o silêncio a bordo é um fator calmante, diria até, desestressante por vários motivos. O primeiro deles é a sensação de não poluir o meio-ambiente e o segundo é o conforto auditivo mesmo. Com o ar-condicionado ligado e uma boa musiquinha no ar, parece que o carro elétrico é um estranho no ninho no meio do trânsito nervoso, uma cápsula do tempo em outra dimensão. Mas esse silêncio a bordo é benéfico para quem está dentro do veículo, e pode ser um perigo para quem está do lado de fora, principalmente pedestres que venham caminhando numa calçada e que decidam atravessar a rua de repente. Há mais de um século que os ouvidos humanos estão treinados para conviver com barulhos de todos os tipos de máquinas no ambiente de trabalho, em casa e nas ruas. E o trânsito urbano é, provavelmente, o maior provedor desses ruídos. Um motoqueiro, por exemplo, já tem a sua atenção dificultada por causa do capacete que diminui a audição e limita o campo de visão. Quem dirige um carro elétrico deve se preocupar com esse convívio, pois o silencioso automóvel chegará sem ser visto, podendo gerar um acidente. Alguns países já estão exigindo, pela força das leis, a existência de sons artificiais nos veículos elétricos desde o momento do seu funcionamento. São assovios digitais, músicas, imitação do som do vento e até roncos artificiais com vibração na própria carroceria. Tudo em nome da segurança. Muita gente atravessa a rua sem olhar pra trás ou para os lados, confiando apenas na audição, mas isso pode ser perigosíssimo quando envolve um modelo elétrico no contexto. Por causa disso, os sistemas (e as atitudes) de condução ativa e passiva nunca foram tão importantes nos carros, quanto agora nos novatos elétricos. É um tipo desconhecido de convívio no trânsito, uma inédita situação que exigirá tempo para virar costume comum e muita tecnologia para facilitar essa interação, além do óbvio cuidado para se evitar acidentes. (Foto: divulgação BMW / Instagram: @acelerandoporai.com.br)