Performance do mercado europeu mostra como anda a ´saúde´ dos carros elétricos

O ano ainda não terminou completamente e, como é comum no segmento automotivo, teremos que esperar os primeiros meses de 2025 para termos acesso às contas e balanços anuais dos fabricantes, já que, nem todas as empresas sincronizam o seu ´ano fiscal´ com o ´ano-calendário´ muito utilizado no mundo todo e que começa sempre em 1º de janeiro e termina em 31 de dezembro.

Pelo andar da carruagem, acredito que teremos grandes surpresas de balanços negativos no ano que vem. Me refiro ao mercado europeu que, apesar de ser menor que o norte-americano e, mais ainda, diminuto em relação à China, aquele continente sempre se mostra como um assertivo termômetro de tendências que deram certo ou não.

Em relação aos carros elétricos, a Europa (apesar de o ano ainda não ter terminado…) já apresenta um panorama bem claro das vendas em 2024. Quase metade dos fabricantes europeus está amargando um declínio nas vendas dos chamados BEVs (veículos 100% elétricos a bateria). Essa diminuição ultrapassou 4% entre janeiro e setembro em relação ao mesmo período do ano passado.

Quem está bem e quem está pior? >> Vamos deixar as marcas chinesas fora dessa conversa, pois, todas que atuam no mercado europeu – apesar das enormes incidências de impostos de importação – continuam caminhando a passos largos e incomodando a concorrência. Dentre as famosas e tradicionais, a alemã BMW conseguiu alcançar cerca de 20% de comercializações de BEVs dentro das suas vendas totais na Europa até agora. Boa parte desse sucesso é atribuído à uma plataforma mista que congrega ´trens de força´ variados (elétrico, híbrido ou combustão), ou seja, a BMW está conseguindo cortar custos.

A outra alemã famosa, Mercedes-Benz, somente conseguiu um aumento de 5% nas suas vendas de carros elétricos nos três primeiros trimestres do ano. As vendas de BEVs da Mercedes estão, portanto, muito aquém das expectativas e, certamente, vão ser um empecilho na sua transição energética para um provável futuro totalmente elétrico.

A gigante Stellantis (que congrega 14 marcas) com a sua versátil plataforma STLA, continua tentando decolar nas vendas dos elétricos, mas está difícil… Agora em 2024 já teve um declínio de 15% nas comercializações de BEVs em relação a 2023, além de um prejuízo de quase 50% nos lucros do grupo.

Gigante sufocando! >> Situação delicada atravessa o Grupo Volkswagen, maior fabricante alemão e símbolo de alta qualidade nos seus robustos produtos. O Grupo VW tem uma enorme rede de produção com 114 locais em todo o mundo, dentre esses, 70 unidades são fábricas de carros. A VW consegue produzir cerca de 40 mil carros por dia! Apesar de tradicionalíssima no ramo e sempre inspiradora de confiança, está em crise e se quiser sobreviver, terá, necessariamente, que fechar fábricas e demitir dezenas de milhares de funcionários. Só na Alemanha ela emprega 300 mil pessoas. O panorama é difícil, principalmente na concorrência com os carros elétricos chineses, hoje, tão bons e bonitos quanto à linha ´ID´ da VW. Com unidades antigas e enfrentando um mercado cheio de incertezas, a Volkswagen possui algumas fábricas que chegam a ter um custo operacional até duas vezes maior que uma unidade da Tesla ou da BYD, por exemplo.

O que veremos a seguir? >> Sinceramente… dentro de um contexto de incertezas, incluindo novas gerações que já não tem a compra de um carro como uma meta de vida, ninguém pode prever absolutamente nada. Pessoalmente, acredito que os anos de 2028/29 serão fundamentais para exibir a questão principal no universo dos carros elétricos: a liquidez na condição de carros usados e fora da garantia. Aí é onde “o bicho vai pegar”, pois, se o mercado de usados e seminovos responder bem às comercializações de híbridos e 100% elétricos, teremos, enfim, uma nova era consolidada desses tipos de veículos. Caso contrário, continuarão a reinar os modelos tradicionais a combustão. Vamos adiante! (Fotomontagem: Agência FBA / Instagram: @acelerandoporai.com.br)