Chama-se de ´Seiri´ um senso de organização, uma espécie de método que culmine na arrumação absoluta, no descarte de objetos inúteis, principalmente, em ambientes de trabalho, a fim de que tudo se desenrole da maneira mais funcional e prática possível. No fundo (como ressaltei no título), ´a arte de descartar´ é um movimento antiquíssimo que, talvez, tenha origem na observação do próprio ser humano em cima do modo de vida dos animais, afinal de contas, nunca se viu por aí uma leoa vaidosa usando brincos ou um camelo de óculos escuros… Os bichos vivem só com o essencial. Baseado na filosofia do ´Seiri´, no início dos anos ´1990, principalmente nos Estados Unidos, iniciou-se uma corrente denominada de ´Simplicidade Voluntária´, aonde as pessoas procuravam eliminar ao máximo os objetos inúteis e, além disso, também filtravam convívios com pessoas indigestas, lugares desconfortáveis, programas ruins, clientes chatos, entre outros, com o intuito de não se perder tempo e desfrutar os melhores momentos da vida na sua totalidade. Dentro do contexto, eliminavam excessos de roupas e cartões de crédito, e tantos outros penduricalhos acumulados ao longo dos anos, dentre eles, inclusive, o carro. Nessa época, coincidentemente ou não, o conceito de veículos e outros bens compartilhados, começou a crescer.
Nesse exato momento, o universo automotivo parece estar mergulhado em alguns dilemas que envolvem, por exemplo, a aposta nos carros elétricos, o uso de automóveis por assinatura e também as interrogações sobre a postura das novas gerações, que já demonstram pouco interesse em comprar um carro zero-km, antes de tudo, pela despesa constante que um veículo demanda. Não há a menor dúvida de que, mesmo as pessoas mais tradicionalistas, hoje em dia estão dispostas a alugar algum bem por um curto período de tempo, desfrutar de uma sonhada experiência e depois devolver e se livrar de preocupações. Isso acontece com trajes de esqui na neve, carros esportivos de alto luxo e até em coisas simples, como o aluguel de um equipamento de mergulho por alguns minutos ou um patinete elétrico. Com suas habitações minúsculas e bem projetadas, o mercado imobiliário é outro exemplo de ´enxugamento´, de emagrecimento de despesas, aonde a praticidade vale ouro. Eu continuo sonhando com o meu Porsche 911 Targa com 6 cilindros movidos a gasolina e um quintal gigante aonde eu possa ter uma garagem e até um lago, mas já vejo perto de mim, movimentos amplamente contraditórios, com amigos da minha faixa etária (53 anos) a dispensar os carros e motocicletas, passando a usar bikes elétricas e mobilidade via aplicativos. Olhando com atenção, pelo que consigo ver perto e longe de mim, parece que o Seiri gerou frutos e criou poderosos tentáculos… E você: tem coragem de descartar o seu carro? (Foto: divulgação Rolls-Royce / Instagram: @acelerandoporai.com.br)