Esqueça os dados brasileiros (quase sempre superficiais) sobre nível de alfabetização, saneamento básico e taxas de homicídios por cada 100 mil habitantes: nada disso é parâmetro assertivo para se medir a educação de um povo. Nem no Brasil e nem em qualquer outro lugar do mundo. O comportamento no trânsito é o melhor termômetro de todos para se obter esse tipo de aferição. Se você mesmo quiser conferir, faça como eu fiz, pesquisando dados sociais de países diametralmente opostos em índices de desenvolvimento humano, ´renda per capita´, saneamento básico, degraus culturais, taxas de homicídios, fortunas acima de US$ 100 milhões, volume de PIB, dentre outras medições. Sem margem de erro, os melhores lugares para se viver e os que oferecem mais riqueza, saúde, segurança e organização para a sociedade, são os países aonde o trânsito é mais pacato e a boa educação prevalece além das portas das residências e escolas, indo parar nos semáforos e estradas. Suíça, Finlândia, Dinamarca, Suécia, Japão, Alemanha e Áustria são ótimos exemplos de trânsitos mais seguros e minimamente violentos. Brasil, Venezuela, Paraguai, Índia, Rússia e Cuba, são péssimos exemplos desse contexto.
Somente no Brasil, segundo dados da Polícia Rodoviária Federal, Associação Brasileira de Medicina no Trânsito e levantamentos de hospitais-gerais das 11 maiores capitais brasileiras, cerca de 210 mil motociclistas anualmente tornam-se inválidos perante o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) devido à amputação de membros (geralmente os pés ou parte da perna do joelho para baixo). Diferentemente dos Estados Unidos, por exemplo, aonde, em casos de invalidez, o recebimento da aposentadoria será proporcional ao tempo trabalhado e ao recolhimento de impostos ao Estado, no Brasil, o pagamento dessa pensão é integral, sobrecarregando a já sufocada e irresponsável máquina estatal nacional. Me inspirei a escrever esse artigo pelas tantas cenas de descortesia no trânsito que já tive a oportunidade de testemunhar e até mesmo de sofrer na própria pele. A mais comum delas está nos momentos que antecedem à uma tentativa de mudança de faixa em avenidas movimentadas. Faça o teste e preste atenção: motoristas que seguem a regra da boa educação, sinalizando com a seta (com bastante antecedência), simplesmente são atrapalhados gratuitamente por outros que aceleram, eliminando a possibilidade da manobra. Tudo a troco de nada, pois o fato de deixar um ou dois veículos passarem à sua frente, em absoluto vai alterar o seu trajeto. Há quem adote a tática da surpresa, mudando de faixa sem usar a seta, o mais rapidamente possível, mas essa atitude pode ser perigosa e não está em conformidade com as leis de trânsito. Isso é apenas uma situação: adicione a esse caos voluntário, motos barulhentas em cima das calçadas, ´trancões´ (fechadas) distraídas ou propositais, sinais vermelhos sendo desobedecidos e outras tantas aberrações ao volante. Somente consigo imaginar um trânsito melhor no Brasil, quando os motoristas tornarem-se passageiros dos seus próprios carros autônomos. Provavelmente, somente a racionalidade das máquinas deverá amainar os ânimos exaltados dos estressados (e bem irracionais) seres humanos… (Foto: agência FBA / Instagram: @acelerandoporai.com.br)