Acompanho de perto o mercado dos veículos antigos desde os anos ´1980, quando comecei a me inteirar, aliás, me apaixonar mais pelo tema, por intermédio de raras matérias que saiam nas revistas Motor 3 e Oficina Mecânica. Tempos depois – somente em abril do ano 2000 –surgiu a ótima ´Classic Show Magazine´, uma publicação 100% voltada para o tema, um verdadeiro garimpo do universo antigomobilista.
Associado à muita leitura especializada, algumas restaurações pessoais e vivências jornalísticas nas melhores exposições de carros antigos do mundo – incluindo o espetacular Pebble Beach Concours d´Elegance – em Carmel (Califórnia/EUA), a ´Autoclasica´ (em San Isidro, Argentina) e o ´Brazil Classics Show´ (em Araxá/MG), pude, enfim, começar a entender e, consequentemente, distinguir níveis de qualidade nas restaurações de veículos antigos. E não bastam somente olhos atentos: é preciso amar esse tema, literalmente respirar carros, motos, barcos e aviões ´de época´, pois o cheiro dessas máquinas é muito padronizado e inspirador.
A ampliação do meu gosto por carros antigos, certamente foi influenciada pelo convívio com o saudoso amigo José Roberto Nasser que, por sua vez, havia sido influenciado por Roberto Lee, Eduardo Matarazzo e Og Pozzoli, provavelmente os primeiros brasileiros a cultivar a arte do colecionismo de veículos clássicos. Antes de continuar: nem todo carro antigo é um ´clássico´. Mas isso é tema para um bate-papo futuro. Viajar com Roberto Nasser para exposições do tipo, significava aprender na prática os mínimos detalhes de motores, carrocerias, estilos de marcas, dentre outras minúcias.
Certa vez, em agosto de 2011, estávamos numa das mesas na calçada do Maha´s, um minúsculo restaurante libanês da cidade de Monterey (Califórnia), a beber cerveja e petiscar quibes e queijos daquele país. A diversão era essa: jogar conversa fora e olhar os carros excêntricos que desfilavam na ´Alvarado Street´, como por exemplo, um Rolls-Royce Phantom conversível absolutamente verde-limão (por fora e por dentro), a única Ferrari F-40 preta que vi até hoje, Porsches, Maseratis, Lancias e BMWs antigos.
O mais incrível de todos (e carro inspirador desse texto) foi um lindíssimo Jaguar e-Type 1968 com sua cor característica (verde musgo) que estacionou exatamente em frente ao tal restaurante. Conversamos com o proprietário e descobrimos naquele instante a incrível capacidade que os norte-americanos têm de resgatar veículos às vezes em estado deplorável, transformando-os em joias, de fato, ´imaculadas.´ O preciosismo nos detalhes desse Jaguar era tão intenso que até a ´cabeça´ dos cachimbos de vela do motor traziam os adesivos de papel com a marca ´Champion´. Tecidos, vidros, cromados, o rádio, pneus, absolutamente tudo era exatamente igual ao de um Jaguar e-Type de 1968 em estado de ´zero km´! O belo exemplar inglês, inclusive estava à venda.
A comercialização de veículos antigos no Brasil esquentou muito de 2008 para cá. Tenho visto coisas inacreditáveis nas redes sociais, como Kombis sendo negociadas por quase R$ 200 mil e Ford Maverick GT atingindo estratosféricos R$ 370 mil! Muitos desses anúncios trazem termos comuns, como “veículo imaculado”, “estado de conservação jamais visto”, “dispenso curiosos”, “modelo que pertenceu ao piloto Ayrton Senna”, dentre outras firulas nem sempre reais como as anunciadas. O padrão de restauração de carros antigos no Brasil melhorou demais. Já são muitas oficinas (ou garagens ou ateliês…) que seguem se especializando em determinadas marcas, realizando restaurações num ótimo padrão, não em nível excepcional como o fazem os norte-americanos, alemães e argentinos, mas já em condições de exibir veículos em concursos renomados com chances de premiação. Vale a dica: se for comprar um carro antigo, que ele seja de procedência conhecida, pois existe a possibilidade de se adquirir um exemplar comum, exposto como raro, de série especial (que nunca existiu…) ou ´absolutamente original e jamais restaurado´, tendo sido remendado e soldado nos quatro cantos… Antigomobilismo é um ramo bom, com muita gente bacana e apaixonada pelo tema, mas há – como em todos os setores da vida – ´espertinhos´ que costumam passar a perna nos mais desavisados. As lembranças que me chegam, mostram que esse foi o papo com Roberto Nasser naquele início de tarde regado a cervejas, algumas mentiras bobas e muito cheiro de gasolina. E me recordo bem: o primeiro brinde daquele dia foi em homenagem ao alagoano Mário Raul Armando Leão, outro grande colecionador de veículos antigos… (Fotos: divulgação Agência FBA / Instagram: @acelerandoporai.com.br)