O futuro automotivo não cabe em bolas de cristal…

Costumo dizer que o setor automotivo sempre consegue competir em evolução tecnológica com as (também pujantes) indústrias farmacêutica e da computação. Em conjunto, elas movimentam bilhões de dólares por ano, trazendo a modernização em seus respectivos setores. No caso do universo dos veículos com motores a combustão – terrestres, aéreos e marítimos –, como é sabido, existe hoje um desafio enorme ligado ao controle de emissões de gases poluentes e também um foco bem avançado na transição de modelos alimentados por combustíveis fósseis para a chamada ´propulsão limpa´, caso dos híbridos e, principalmente, dos carros 100% elétricos. Já escrevi sobre a questão do descarte do pacote de baterias (que num veículo de passeio, pesa – em média – 500 kg) e também na energia despendida para se fabricar um automóvel elétrico.

Outro ponto que destaco aqui é a precipitação (muitas vezes alarmista) sobre o futuro dos veículos no mundo, incluindo o ´tempo de vida´ dos motores a combustão, o prazo para a transição elétrica total, a adequação dos preços dos modelos inéditos e tradicionais às novas demandas de mercado, e qual a valorização (ou desvalorização) que determinado carro terá (ou deixará de ter…) daqui a dois, cinco ou dez anos. Simplesmente – e apesar do surgimento de novas marcas recheadas de tecnologias – isso é impossível de se prever. Particularmente, acredito que se as vendas dos veículos 100% elétricos se mantiverem no mesmo ritmo acelerado dos últimos três anos, por mais um ciclo consistente de 7 anos, aí sim, ao menos nos carros de passeio de médio porte (num primeiro momento) e nos pesados (ônibus e caminhões, numa segunda etapa), a era da combustão estará ameaçada. Mas abro parênteses: se nesse mesmo período os combustíveis sintéticos (não-fósseis) alcançarem larga escala de produção ou se algum engenheiro mecânico genial inventar algum dispositivo que diminua radicalmente os níveis de emissões, os elétricos poderão sofrer um pesado contra-ataque. A briga maior, na minha visão, acontece entre (ótimas) marcas chinesas novatas contra a veterana Tesla, de origem norte-americana. E os poderosos ´big dealers´ parecem estar numa postura de observação com a devida cautela de quem tem experiência de sobra e já viu muita água passar por debaixo da ponte… Apontar com assertividade a solidez de uma nova tendência no mercado automotivo – apesar dos ótimos produtos e do crescimento de híbridos e elétricos em todos os lugares – é uma precipitação tola, até pelo fato de muitos consumidores serem extremamente conservadores nas suas escolhas e, no caso do Brasil, não se ter uma infraestrutura que possibilite, por exemplo, o uso de veículos elétricos em viagens de longas distâncias. Não há bola de cristal que possa apontar isso com total certeza. É o tipo da questão que teremos que esperar e até ´pagar pra ver…´ (Fotomontagem: agência FBA / Instagram: @acelerandoporai.com.br)