Desde que o mundo é mundo, o convívio entre seres humanos tem suas regras bem peculiares. Às vezes é fácil, noutras, difícil e até trágico. O sangue jorra até entre irmãos! E como eu sempre “digo, repito e trepito” (plagiando Odorico Paraguaçu, personagem cômico e de ficção, criado pelo dramaturgo Dias Gomes), o trânsito é o melhor termômetro social que existe. O padrão comportamental das pessoas ao volante e/ou ao guidão, reflete com muita assertividade o nível educacional de um povo. Nesse aspecto, os brasileiros são os campeões dos erros, grosserias, barbeiragens e absurdos, principalmente sobre duas rodas. O furor dos motoqueiros irresponsáveis começou lá atrás nos anos ´1980, mas essa população se restringia às capitais de São Paulo e Rio de Janeiro. Tanto para a locomoção pessoal, quanto para o transporte de pequenos volumes, pela praticidade e economia de combustível, as motocicletas (principalmente as de pequeno porte) se multiplicaram nas cidades como gafanhotos famintos!
O processo evoluiu para o crescimento do uso desse tipo de veículo e, por fim, consolidou-se no finalzinho dos anos ´1990, atingindo o pico nos últimos dez anos e chegando, nesse momento, ao clímax da insanidade sobre duas rodas. Dirigir, principalmente nas capitais brasileiras, tornou-se motivo de stress e perigo. O trânsito nacional continua matando mais de 40 mil pessoas por ano e deixando outros tantos milhares de motoristas e passageiros com sequelas (físicas e emocionais) irreversíveis. Anualmente a PRF (Polícia Rodoviária Federal), os maiores hospitais e algumas instituições sérias ligadas à mobilidade, como a Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego) conseguem compilar dados sobre acidentes e mortes, capazes de impressionar a qualquer um. Os chamados ´motoboys´, por exemplo, são a maioria dentre pacientes amputados em decorrência de acidentes de trânsito. Jovens em geral, eles dirigem como loucos a fim “de bater a meta” estipulada pelas empresas a que prestam serviço, geralmente entregadoras de alimentos e bebidas. O resultado? Somente no Brasil, mais de 200 mil motoqueiros são aposentados anualmente após serem considerados inválidos para o exercício da profissão, que era dirigir uma moto. São eles, atualmente, os maiores responsáveis por sufocar o INSS, já que passam a receber mensalmente por invalidez. Mas… como o detestável “jeitinho brasileiro” prevalece, muitos voltam ao ramo em cima de uma moto, mesmo que sem um pé, um dedo ou até sem a metade de uma das pernas. No momento, a impressão que se tem é que os motoqueiros tomaram para si uma espécie de razão absoluta quando o assunto é dirigir: trafegam na contramão, correm em disparada nos ´corredores´ entre os carros, buzinam sem parar e, em punição já padronizada, gesticulam com as mãos e balançam a cabeça em reprovação por algo que, nessa óptica absurda, eles acham que o motorista fez de errado. Mudar de faixa pode ser um perigo com castigo a se pagar instantaneamente aos donos da rua, que impõem a bagunça no trânsito com xingamentos e desrespeito às leis. São os velhos ´cavalos de aço´ com seus indomáveis comandantes a reger um dos espetáculos sociais mais grotescos que o Brasil oferece na atualidade. E o pior: debaixo do silêncio absoluto das autoridades que poderiam revisar e mudar esse cenário, mas que se calam diante dos gritos absurdos das motocicletas… (Foto: agência FBA. A divulgação dessa imagem está liberada, desde que citada a fonte www.acelerandoporai.com.br / Instagram: @acelerandoporai.com.br)