Ser humano: um autônomo ´Nível 10´, mas que começa a falhar sem perceber…

A minha primeira carteira de habilitação para dirigir veículos automotores, foi a mim concedida pelo Detran de Alagoas na data de 3 de fevereiro de 1988, exatamente um mês após o meu aniversário de 18 anos. Naquela época, ainda era um costume comum da maioria dos jovens, conquistar a tão sonhada ´CNH´ para, de alguma forma, ganhar asas a bordo de um carro ou motocicleta. Na semana que vem, agora aos 53, renovarei mais uma vez a licença para dirigir por mais cinco anos. A partir dos 50, pessoalmente, acho coerente e necessário o prazo de 5 anos para essa renovação, afinal de contas, os reflexos vão se tornando mais lentos, a visão e a audição perdem acuidade e, principalmente, a paciência não é mais a mesma, afinal de contas, o trânsito brasileiro está cada vez mais caótico e violento. Jamais imaginei começar a repartir a minha paixão de dirigir em fatias de meia década, mas… a vida vai nos pregando surpresinhas, avisando que somos finitos e substituíveis. Triste, mas é verdade. Fico imaginando se terei longevidade e coragem para possuir um carro autônomo ou se desistirei de qualquer tipo de locomoção motorizada em nome de uma paz absoluta num refúgio longínquo que sonho há tempos.

Uma ´marcha a ré´ que dei no meu Fusquinha Itamar 1995 no domingo passado, me inspirou a escrever esse artigo. Ele não tem absolutamente nenhum sensor eletrônico, portanto, qualquer manobra fica a cargo dos nossos sentidos, principalmente a visão e a audição. O céu estava nublado, a noite já caíra e os retrovisores tremiam com a vibração do motor boxer mais famoso de todos os tempos. Era eu e o Fusca, o Fusca e eu! Eu e os centímetros delimitadores das faixas amarelas das vagas do condomínio, eu e a percepção do momento exato de frear para não amassar o para-choque traseiro. Eu e a luta para manter-me firme na condição de dirigir com total prudência e segurança, como sempre fiz. Tudo ocorreu muito bem num estacionamento perfeito da máquina obsoleta de origem alemã. Travei o freio de mão, deixei o motor ligado e desci para confirmar a baliza: estava tudo ok. Senti orgulho da minha habilidade ainda competente ao volante. Pode ser que um jovem motorista jamais leia esse “textão” de pouco mais de trinta linhas. E eu entendo isso. São outros tempos, aonde os patinetes elétricos satisfazem algumas pessoas, mais do que um ronco sedutor de um Chevrolet Opala com motor ´4100´. Quem ama dirigir um carro de verdade, com câmbio manual, motor a gasolina e sem sensores digitais, vai compreender esse receio (mesmo que ainda longínquo) de perder o controle da situação. Talvez seja divertido beber whisky e escutar Pink Floyd a bordo de um irrepreensível carro elétrico e autônomo que não assuste ninguém com o seu silêncio sepulcral e não ouse burlar a mínima regra que seja. Acho que será chato, mas interessante para reavivar antigas memórias… (Foto: divulgação Agência FBA / Instagram: @acelerandoporai.com.br)