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Os estranhos combustíveis no “país da piada pronta”

José Simão, o bem humorado jornalista que usa em seus artigos o pseudônimo ´Macaco Simão´, repete há mais de três décadas que “o Brasil é o país da piada pronta”, dadas as esdrúxulas situações que ocorrem nessa eterna errante nação. Vale lembrar, por exemplo, que no mundo inteiro a matemática é uma ciência exata que, portanto, não admite filosofias em seus resultados, mas… no Brasil existe uma coisa ininteligível chamada de “contabilidade criativa!” Esse é apenas um caso dentre infinitas aberrações que acontecem por aqui.

Mesmo sendo assunto de adulto, por sempre ser apaixonado por carros, quando criança acompanhei nos anos ´70 a chegada do ´Proálcool´ (programa nacional do álcool), uma oportuna ação do governo militar liderado pelo General Ernesto Geisel, que tinha como objetivo principal livrar o Brasil da dependência de combustíveis de origem fóssil.

Naquela época a quantidade de postos de abastecimento era muito menor, o Brasil tinha uma dependência enorme de petróleo vindo do exterior e, por causa disso, houve um período em que os postos fechavam às 18h da sexta-feira, reabrindo somente na segunda-feira pela manhã. Era uma maneira sutil de se racionar os combustíveis.

O início da implantação do Proálcool aconteceu, logicamente, em sintonia com a indústria automotiva nacional que contava basicamente com Volkswagen, Ford, Chevrolet e Fiat (para carros de passeio) e algumas marcas de caminhões (Scania, Ford, GM, Mercedes-Benz e FNM). Também havia outras marcas de menor expressão a comercializar no país. Muitos automóveis de passeio movidos apenas a álcool começaram a surgir, incluindo o popularíssimo Fusca, carro conhecido no mundo inteiro e que teve sucesso arrebatador em todos os mercados aonde atuou.

A questão principal que ressalto aqui é que os postos começaram a oferecer as ´bombas´ somente com álcool, mas não extinguiram as centrais com gasolina ´amarela´ e com a opção de gasolina ´azul´, que era mais pura, mais cara e tinha uma octanagem diferenciada. Os motores se davam melhor com a gasolina azul. Me lembro que esse combustível era tão volátil que, atirados alguns mililitros para cima, ela evaporava e não havia sinal de uma gota no chão. Hoje, essa mesma operação é impossível, pois a gasolina brasileira já vem “batizada” de fábrica com muito etanol e, consequentemente, água na sua composição.

Tudo junto e misturado… >> Decisões governamentais impulsionadas, muito provavelmente, por fortíssimos lobbies, implementaram a mistura do álcool (etanol) na gasolina. E foi aí (nos anos ´90) que os carros de passeio começaram a se tornar beberrões. A partir de 1993 foram adicionados 12% de etanol em cada litro de gasolina. Os percentuais saltaram para 22, 27,5 e agora nós temos uma “gasolina” temperada com 30% de etanol. Em veículos ´flex´ não há problema. A única questão é que, quanto mais álcool no tanque, menos econômico o carro fica. Para quem possui um veículo alimentado somente a gasolina, a questão pode virar uma dor de cabeça com danos técnicos ao motor.

Além da gasolina, o óleo diesel brasileiro hoje também perdeu a qualidade, já que tem 12% de biodiesel adicionado. O objetivo governamental é diminuir a poluição, mas a mistura tem se mostrado nociva aos motores, gerando a formação de borra e facilitando o entupimento dos filtros. O absurdo disso tudo é a imposição federal com esses péssimos tipos e a ausência de oferta de combustíveis melhores. Mesmo que eles fossem mais caros, muita gente gostaria de abastecer com gasolina pura (zero adição de etanol) e com óleo diesel ´verde´ (o óleo vegetal hidrotratado ou HVO), que é muito mais sustentável e ´amigo´ dos motores.

Enquanto o Brasil continua sendo o infeliz ´país da piada pronta´, sugiro que você escolha um posto de sua confiança e só reabasteça o seu veículo nele, pois, além dessa ´mistureba´ oficial, você pode estar sujeito às más práticas de “batismo” nos tanques dos postos. E não estou falando de falsos aditivos ou qualquer coisa que o valha: estou referindo-se à misturas ilegais bem acima dos 30% de etanol em depósitos que já contém gasolina com álcool na sua composição. No Brasil, infelizmente, 2 + 2 são 5 e quase ninguém reclama… (Imagem: Microsoft Designer Creator IA / Instagram: @acelerandoporai.com.br)