A Fiat tem mantido uma tradição que, apesar de chamar atenção de pouca parcela dos consumidores de veículos, agrada demais a uma minoria apaixonada: a de construir versões esportivas a partir de carros originais. O bom da história é que, apesar de muitas vezes as diferenças serem sutis, quase que apenas estéticas, elas alcançam justamente os anseios da turma que gosta de pisar um pouquinho mais fundo.
Foi assim com os “147” Rallye, Unos 1.5 e 1.6 R e Turbo, Tempra, Marea e Punto T-Jet (também turbinados), além de Stilo Abarth. Se a memória não me deixa falhar, acho que foram esses os queridinhos da marca italiana que já fizeram (e fazem, o T-Jet continua em linha) sucesso por aqui.
Nesse instante a Fiat lançou (em duas e quatro portas) uma linhagem diferenciada na família “Novo Uno”. Trata-se da versão “Sporting”, cheia de mimos escandalosos como faixas laterais, cores vibrantes, volante com detalhes em vermelho, bancos mais esportivos, etc…
O que eu não imaginava (ao fazer um teste nesse modelo) era que sua concepção mecânica fosse um pouco diferente da original.
Mudanças – O motor 1.4 do Uno Sporting é idêntico ao utilizado nos carros das versões “Way e Attractive”. A unidade de 4 cilindros (bicombustível) gera uma potência variável (que muda de acordo com o combustível utilizado), entre 85 e 88 cavalos. Isso não é muito, mas é o suficiente para uma mobilidade urbana ágil. O Uno (desde os primórdios) nunca foi lerdo. Italianos sabem fazer três coisas muito bem: massas, mulheres bonitas e carros esportivos. Isso é ponto aceito em todo o mundo.
Para diferenciá-lo dos demais, a Fiat deu um tratamento especial ao Uno Sporting, principalmente naquilo que a fábrica chama de “Low Pack” (pacote de baixo). Por exemplo: a suspensão desta versão é 20 mm mais baixa do que a do Uno 1.4 Attractive. A flexibilidade das molas é reduzida. Tanto as traseiras quanto as dianteiras (0,48 mm/kg contra 0,525 mm/kg) são mais rígidas. Os amortecedores possuem características específicas (também mais firmes), a barra estabilizadora dianteira tem maior diâmetro e o eixo de torção da suspensão traseira possui maior rigidez torcional (26 N/mm contra 21 N/mm da versão Attractive). No frigir dos ovos, entenda tudo isso como uma suspensão recalibrada com caráter bem mais esportivo do que o normal. O Uno Sporting é mais duro e um pouquinho mais ruidoso e até áspero, mas, para quem (assim como eu) adora esportividade, aquilo que pode (para alguns) soar como desconforto, representa, nessa óptica, mais prazer em dirigir. Pode acreditar: apesar de mais firmes, comprometendo minimamente o conforto, os parâmetros de “handling” (capacidade que o carro tem de andar forte, equilibradamente, sem desgarrar em curvas, saltos, frenagens…) não foram alterados.
Mais detalhes – Duas outras coisas colaboram para um rodar mais esportivo do Uno Sporting: os pneus mais largos (e com perfil mais baixo) 185/60 R15 e o câmbio com relações encurtadas. Esse último detalhe é que faz desse carrinho uma delícia de se guiar, diferenciando-se um pouco do Novo Uno em condição “careta”. Todo o escalonamento das 5 marchas da transmissão manual é diferente, reduzido, oferecendo com isso respostas mais rápidas (retomadas e reduções), além de um ganho de 500 rpm (rotações por minuto) em algumas faixas de atuações. Quem gosta de acelerar sentirá prazer com isso, diferença aparentemente imperceptível, mas que traz mais gosto de se andar nesse carro.
Por dentro – Como disse no início, a Fiat não é contida quando quer fazer um esportivo. Deixa os engenheiros e projetistas (estéticos) sonharem. O Uno Sporting tem bancos diferentes, pedais esportivos, interior com detalhes meio escandalosos, faixas nas portas, rodas de liga leve exclusivas para a linha, som completo e ainda pode trazer pacote opcional com airbag duplo (bolsas de ar) e freios com sistema ABS, antitravamento. Senti falta dos cintos de segurança na cor vermelha (como os usados no Palio 1.8R).
Veredicto – O carrinho tem charme indiscutível e possui relação custo/benefício até atraente (pela exclusividade) saindo por cerca de R$ 35 mil (preço base SP). Eu gostei do brinquedo e acelerei bastante. Incomodei-me um pouco com o alto nível de ruído ocorrido, mas só acima de 130 km/h. O ronco é mais grave, mas nada que incomode.
No geral, a linearidade da carroceria em progressão reta (ou em curvas, subidas e descidas) é fina. A progressividade e precisão de manobras é bem facilitada e, o melhor: o limite de comportamento dinâmico (com esportividade, mas sem perder em segurança) é alto. Bom comportamento em qualquer situação, tanto em movimentação vertical quanto em alta velocidade. O nível de conforto geral é bacana e, pelo pacote (há simpática paleta de cores com opções laranja, verde, preto, amarelo, vermelho, prata…), se você quer aparecer na rua…, ele chama bastante atenção. Pode acreditar.
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