Aos 92 anos, morre em Maceió o renomado antigomobilista Mário Leão

Existem algumas pessoas que, pela intensa paixão por algum tema, tornam-se verdadeiros personagens do assunto envolvido. Esse foi o caso de Mário Raul Armando Leão, o ´Mariozinho Leão´, ex-industrial do ramo sucroalcooleiro alagoano e um dos precursores do colecionismo de automóveis antigos, que faleceu hoje (14/3) em Maceió (AL).

Pioneiro >> Contemporâneo de Roberto Lee, Eduardo Matarazzo e Og Pozzoli (três grandes expressões do antigomobilismo no Brasil), ele dedicou boa parte da sua vida a colecionar alguns raros modelos, ler sobre veículos antigos e, principalmente, vivenciar a presença deles por intermédio de participações em eventos de carros clássicos, seja como expositor ou apenas visitante.

Raro Rolls-Royce Silver Dawn de 1950 com o volante do lado esquerdo, era o carro predileto de Mário Leão

´Boa praça!´ >> Longe de ser um daqueles milionários pedantes e inacessíveis, Mário Leão, pelo contrário, sempre tinha boa vontade em conceder entrevistas e conversar longamente sobre carros, campo que mais o fascinava. Tornou-se frequentador assíduo das mais importantes exposições automotivas, dentre elas os famosos ´Pebble Beach Concours d’Elegance´ (em Carmel, EUA), ´Autoclasica´ (Argentina) e o ´Concorso d´Eleganza Villa d´Este´ (Itália).

Uma vida dedicada ao tema >> Profundo conhecedor de tipos de carrocerias (principalmente de carros antigos ingleses e franceses), Leão conseguia avaliar e identificar veículos especiais em meio à raridades. Além disso, em sua juventude, foi piloto de automóveis e conhecia bastante o lado técnico, as minúcias mecânicas. Certa vez, realizando uma matéria num evento de carros antigos em Gravatá (PE), desconfiei do aspecto incomum dos eixos de um Ford modelo “A”, ali exposto. Imediatamente comentei com Mariozinho e dele recebi informações preciosas, uma verdadeira aula sobre o carro em questão. Me explicou que aquele ´Ford A´ foi equipado com o chamado “eixo sulista”, um tipo de eixo que tinha 2 polegadas a mais de largura e era um detalhe construtivo característico da Ford para o mercado do sul dos Estados Unidos nos anos ´1930. Quem, além dele, poderia conhecer uma particularidade dessas…?

Pelo seu alto conhecimento no tema, alagoano tornou-se conselheiro da FIA (Federação Internacional de Automobilismo)

Notoriedade >> Mário Leão foi um cidadão pacato e de bons modos. Formou um ciclo restrito e leal de amigos e teve, a seu modo, uma vida discreta. Poucos sabem, mas, como consolidação de uma história focada no antigomobilismo, Mariozinho foi nomeado pela FIA (Federação Internacional de Automobilismo) como um dos seus conselheiros, fato que o deixou muito feliz. À época, noticiei com exclusividade na Gazeta de Alagoas.

Raridades >> Dentre muitos carros que possuiu, alguns deles chegaram e não mais saíram da sua garagem. O acervo de Mário Leão era pequeno, porém, precioso por congregar modelos raros, como um Delage D6-70 de 1938 (exemplar único na América do Sul), um Mercury cupê 1939 de duas portas (raro até nos EUA) e o seu adorado Rolls-Royce Silver Dawn de 1950.

Descanso final… >> Após convalescer durante quase sete anos naquele delicado esquema de ´UTI residencial´, Mário Leão faleceu em decorrência de falência múltipla dos órgãos ao lado dos seus familiares mais próximos, tendo o sobrinho Felipe Leão (o amigo ´Pipô´) como dedicado Cuidador nos seus últimos anos de vida. (Fotos: divulgação Agência FBA)