Em 1970, os psicólogos Walter Mischel e Ebbe B. Ebbesen conduziram um experimento revolucionário. Ofereceram a 32 crianças uma escolha: comer um marshmallow imediatamente ou esperar 15 minutos para ganhar dois. Apenas dez crianças resistiram à tentação. O acompanhamento posterior revelou que essas crianças tendiam a ter melhor desempenho acadêmico e maior bem-estar na vida adulta.
Essa mesma dinâmica de gratificação adiada se manifesta diariamente no trânsito. O ronco do motor convida a ultrapassagens arriscadas, e aquela “cervejinha” promete descontração após um dia difícil. E a manutenção preventiva? Trocar o óleo regularmente, verificar os freios ou substituir pneus gastos são tarefas que exigem tempo e dinheiro. É tentador adiar, especialmente quando o carro ainda ´está andando´. No entanto motoristas que resistem a essa tentação e mantêm seu veículo em dia experimentam benefícios significativos: segurança, economia de combustível e vida útil prolongada do automóvel.
O mesmo princípio se aplica à direção defensiva. Respeitar limites de velocidade e manter distância segura pode parecer frustrante quando há pressa. Porém essa cautela não apenas previne acidentes como também reduz estresse, economiza combustível e diminui desgaste do veículo. Isso vale também para dirigir sob efeito de álcool ou chamar um transporte por aplicativo. O gasto imediato com a corrida pode parecer alto, mas é insignificante comparado ao custo potencial – financeiro e humano – de um acidente.
No artigo “Postpone your pleasures” (“Adie seus prazeres”, em tradução livre), Arthur Brooks, escritor e professor no curso de liderança e felicidade da Harvard Business School, também defende que a capacidade de adiar prazeres pode aumentá-los ainda mais. Para treinar a habilidade de adiar prazeres, Brooks dá algumas dicas, duas delas aparentemente paradoxais: “Pense no futuro e não pense no futuro”. Equilíbrio entre o agora e o amanhã
Uma abordagem eficaz para adiar a gratificação, explica Brooks, combina o melhor de dois mundos: a projeção no futuro e a atenção plena no presente. Estudos mostram que imaginar uma versão futura de si mesmo – mais velha, mais saudável ou mais preparada – pode influenciar decisões a favor de escolhas que trazem benefícios a longo prazo. Por outro lado, práticas de atenção plena, como exercícios de respiração consciente, ajudam a focar no momento presente, reduzindo impulsos imediatos. Juntas, essas estratégias permitem que você tome decisões mais alinhadas ao que realmente importa: agir com clareza agora, pensando no impacto positivo que isso terá no futuro.
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