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Europa apresenta estagnação nas vendas de automóveis

Há muito tempo que não existe mais nenhum mercado que consiga se dar ao luxo de apenas contentar-se com o consumo interno de automóveis. Todos os países que produzem veículos precisam exportar para ampliar a lucratividade, conseguir aumento de vendas e sustentação nas operações. Alemanha, Itália, França, Reino Unido e Espanha – grandes produtores da chamada ´Europa Ocidental´ – sempre dependeram bastante das negociações com os Estados Unidos, China e, em menor escala, com a Rússia.

Pela primeira vez na história, os mercados fortíssimos da China e EUA estão passando por uma situação de começo de declínio de vendas internas e também de baixa de exportações. Por causa disso, a União Europeia, em particular, está sendo a maior prejudicada na atualidade. O panorama é bem indigesto, mas o contexto é fácil de entender.

Marcas europeias tradicionais como BMW, Mercedes-Benz e Volkswagen estão sofrendo uma duríssima concorrência dos fabricantes chineses, principalmente no nicho de veículos eletrificados à bateria. Apesar das altas taxas de importação que dificultam a chegada dos carros fabricados na China em praticamente todas as partes do mundo, ninguém consegue disputar preços baixos com os chineses, que hoje, como se sabe, entregam ótimos produtos.

Outra barreira que se formou há pouquíssimo tempo são as indigestas tarifas protecionistas impostas pelo atual governo Trump. Além da concorrência chinesa, o segmento automotivo europeu está assustado com o contexto atual, já que quase 60% das suas exportações são feitas para os EUA. Vários fabricantes europeus já suspenderam (mesmo que temporariamente) o envio de veículos para os Estados Unidos, pois as negociações tornaram-se inviáveis tanto para os concessionários, quanto para os consumidores finais.

Perceba a amplitude dessa preocupante ruptura estrutural: a China precisa escoar a sua gigantesca produção (ela consegue fabricar 50 milhões de unidades/ano, mas “somente” consome 28 milhões/ano); os Estados Unidos resolveram se fechar para tentar oxigenar o mercado interno e a Rússia, sempre um excelente importador e um país grande com uma considerável demanda local, viu a indústria automotiva global (principalmente as marcas europeias) se evadirem. Essa decisão política tomada por fabricantes tradicionais, reabriu um vasto mercado praticamente intocado na Rússia. Adivinhe quem chegou com força total ocupando as vitrines abandonadas? A China, é claro… Continuando nesse ponto, mesmo com a guerra entre Rússia e Ucrânia ainda em andamento, diversas marcas estão pedindo para voltar, mas o governo russo continua com as portas fechadas.

Além de tudo isso, a Europa continua a sofrer com a queda do consumo interno, inflação em alta constante, PIB (produto interno bruto) que não sobe e nem desce, amargas tarifas de energia elétrica e, “de quebra”, imensos problemas sociais ligados à imigração ilegal em larga escala.

Uma pequena parte da Europa Oriental, que é uma região mais pobre (Romênia e Hungria, por exemplo) e que tem custos trabalhistas mais baixos, está funcionando como polo fabril capaz de dar algum fôlego à indústria automotiva local. Mas o próprio declínio das vendas em 2024 e nos quatro primeiros meses de 2025 já mostra que mesmo com todos os esforços, a Europa não consegue manter um tranquilo voo de cruzeiro enfrentando o sufocamento das exportações e a concorrência chinesa.

Todo esse problema não pode ter como base de culpa apenas o “tarifaço do Trump”, pois o contexto é anterior ao atual governo dos EUA. O jogo do mercado simplesmente mudou e, ao menos nesse instante, não há possibilidade de ´reinvenção´ da indústria para sair desse atoleiro. Marcas tradicionais deverão encolher bastante e, se não quiserem fechar as portas, terão – impreterivelmente – que diminuir os seus lucros. É o velho e feroz capitalismo sempre em metamorfose, gerando surpresas e mostrando aos mais inocentes que todas as empresas (sejam elas de qualquer porte) não têm coração e sim, apenas um CNPJ com obrigações a cumprir e muitos boletos a pagar… (Imagem: Microsoft Designer Creator IA / Instagram: @acelerandoporai.com.br)