Não é segredo para ninguém que o brasileiro é apaixonado por carros. Esse sentimento aliado ao apetite por economizar e pelos preços atrativos de muitos modelos de automóveis elétricos tem feito esse mercado avançar cada vez mais em nosso país.
Para ter uma ideia desse crescimento, de acordo com a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), de janeiro a junho de 2024, foram mais de 79 mil emplacamentos de carros elétricos (aumento de 146% em relação ao mesmo período do ano passado). E a previsão da instituição, é que neste ano o número de veículos elétricos vendidos no ano salte para mais de 150 mil. Há, também, a projeção de um estudo da McKinsey estimando que até 2040, o Brasil terá uma frota com 11 milhões de carros movidos a bateria elétrica.
Entretanto, essa perspectiva de progresso traz consigo um problema: a falta de estrutura do Brasil para atender esse público. A ausência de postos de carregamento e de uma infraestrutura adequada para os veículos elétricos nas cidades ainda cria resistência em potenciais compradores. Com isso, o segmento imobiliário tem tentado atender essa demanda que já vem se tornando cada vez mais comum nos condomínios – moradores que querem carregadores para esses tipos de veículos em sua vaga.
Na cidade de São Paulo, por exemplo, a Lei n° 16.642, sancionada em meados de 2021, já determina a obrigatoriedade da instalação de estações de recarga para veículos nas garagens de novos condomínios construídos no município.
Opinião >> “A principal questão está na adaptação dos condomínios construídos antes dessa data, ou seja, a grande maioria dos lares condominiais, inclusive os de grande porte, não possui a infraestrutura necessária para carregar esses veículos”, é o que explica o diretor-geral da Plenno Arquitetura, Fábio Ramos.
Um levantamento do banco para condomínios CondoConta, ressalta que houve um aumento de mais de 35% na instalação de tomadas e obras em infraestrutura para suportar maior capacidade elétrica em condomínios de São Paulo no último ano, número esse que está acima da média nacional.
São aproximadamente 100 milhões de brasileiros que moram ou trabalham em condomínios, por isso, a grande necessidade de investimentos tanto nos condomínios antigos, como em novos empreendimentos que estavam previstos com poucas ou até nenhuma tomada e infraestrutura para esse tipo de uso.
Um dos principais problemas é que muitos condomínios não têm equipe própria para avaliar a implantação de um projeto como este, conforme explica o especialista da Plenno Arquitetura. “Num primeiro momento é comum o síndico ou outro representante do edifício achar que é só ‘puxar’ uma tomada para a garagem, no entanto, é necessário explicar que instalações desse tipo passam por algumas etapas”.
De acordo com Ramos essas fases são:
Aprovação da instalação em assembleia de moradores – É quando os moradores decidem quem vai arcar com os custos da instalação, a modalidade da instalação (se é um ponto único – utilizado de modo compartilhado por quem tem esse tipo de veículo -, ou vários – um para cada condômino que precisa) e a forma de cobrança da conta de luz ligada aos pontos de recarga, tendo em vista que essa energia será de uso particular e não deve ser rateada entre todos os condomínios.
Infraestrutura técnica – não basta aprovar com os moradores a instalação dos carregadores, é necessário também avaliar a infraestrutura elétrica da edificação para saber se ela está apta a receber o projeto em relação à potência elétrica da rede, os modelos de carregadores mais indicados e os locais adequados para instalação. Essa avaliação deve ser realizada por profissional especializado que garantirá a segurança do projeto.
NBR 17019 e Corpo de Bombeiros – Um dos mais importantes debates sobre a instalação de carregadores e a crescente demanda de carros elétricos são as questões de segurança e os riscos de incêndios. Por isso, é imprescindível pesquisar e se manter informado em relação à Norma Técnica Brasileira, nº 17019, que especifica os requisitos para a instalação elétrica fixa destinada a fornecer energia elétrica aos veículos elétricos e determina condições e regras para a questão. No entanto, a norma não abrange a avaliação de risco de explosão durante a carga da bateria. Portanto, é imprescindível a verificação com o órgão de Corpo de Bombeiros do Estado na qual o condomínio está localizado.
“No estado de São Paulo, por exemplo, o Corpo de Bombeiros publicou em abril desse ano, uma minuta com imposições que devem ser adotadas em prédios e estabelecimentos que contam com os carregadores. Iniciando também uma consulta pública – que terminou no início de agosto – com o objetivo de aprimorar os protocolos de segurança e subsidiar a criação de normas mais eficazes para o setor”, explica Fábio. Segundo documento do Corpo de Bombeiros de São Paulo, os edifícios não adaptados da forma correta podem provocar curtos-circuitos e fogo de “difícil extinção”; assim como a “alta dissipação de gases tóxicos”.
De acordo com a ABVE, essa minuta dos bombeiros freou cerca de 400 projetos de instalação de pontos de recarga, e os estabelecimentos seguem na espera para definição das normas da corporação em São Paulo. “Caso os projetos de implantação não seguirem as regras do órgão, os condomínios podem perder o alvará da instituição ou não conseguirem a renovação do documento”, finaliza o profissional da Plenno Arquitetura. (Imagem: Microsoft Designer Creator IA / Texto: Natália Fernandes / NF Assessoria de Imprensa)