Japão e Brasil, em universos paralelos, enfrentam problemas parecidos

Apesar da pujança do segmento da construção civil, hoje em dia o Brasil inteiro está sofrendo com a escassez de mão de obra nas funções de pedreiro e, principalmente, na atividade de servente de pedreiro. É inacreditável, mas é verdade. E o susto dá-se pelo fato desse ramo pagar salários em patamares mais altos do que a média no país. Não quero aqui mergulhar em discussões políticas, mas já ouvi de engenheiros civis experientes que os auxílios governamentais são, em parte, responsáveis por essa lacuna. Existe uma massa gigante de jovens aptos, mas que não querem trabalhar… A prova disso é o sucesso das inovadoras fôrmas metálicas de concreto que servem para a construção de paredes, pilares etc., substituindo vários funcionários de uma só vez, entregando, inclusive, mais rapidez às obras. Só para se ter uma ideia, onze operários manuseando uma fôrma desse tipo, conseguem fabricar duas casas populares por dia, substituindo a mão de obra especializada ´e escassa´.

Migrando para o nosso costumeiro papo sobre carros, um movimento que está acontecendo no próspero Japão exibe um panorama parecido dentro do segmento de transportes daquele rico país: não existem suficientes motoristas de caminhão para movimentar cargas! E vale lembrar: a remuneração é muito melhor do que uma atividade similar aqui no Brasil. O governo local está investigando para tentar encontrar o motivo ou ´as causas´ dessa impensável escassez de motoristas de veículos pesados.

O assunto é tão preocupante que o Ministério da Economia, Comércio e Indústria e o Ministério de Terras, Infraestrutura e Turismo do Japão, uniram-se para patrocinar um projeto que testa a utilização de caminhões pesados com direção autônoma de Nível 4 na rodovia Shin-Tomei. Só para relembrar: o ´Nível 4´ significa “alta automação de condução” ou seja, o motorista pode desviar completamente a atenção da estrada e até dormir enquanto o veículo dirige por conta própria!

Esse programa japonês está se antecipando à uma crise iminente no setor de transporte de cargas que, com muita probabilidade, deverá acontecer. Alguns sociólogos já arriscam dizer que a questão não tem a ver somente com o envelhecimento da população, mas, também, com novas escolhas de ´profissões modernas´ da turma com menos idade. O tempo é que trará essa e outras respostas. O empenho de empresas importantes como a Hino Motors, Mitsubishi Fuso, Isuzu Motors e UD Trucks (que são os principais fabricantes de caminhões do Japão) é total, afinal de contas, eles serão os primeiros beneficiados com o aumento das vendas de veículos autônomos.

Com diferenças sociais gritantes, Brasil e Japão são apenas dois exemplos das consequências geradas por um novo tempo de mudanças amplamente regado pela fantasia do sucesso via canais digitais. Processos antigos de trabalho estão apresentando os primeiros sinais reais de fadiga e há, mesmo que veladamente (pois não se vê revoluções ou quebra-quebra…) um novo tipo de Ludismo às avessas acontecendo. É confuso de entender, mas, parece que as atividades braçais estão ressurgindo como novas oportunidades de emprego no lúdico mundo dos ´likes´ e ´seguidores´… (Fotomontagem: Agência FBA / Instagram: @acelerandoporai.com.br)