Entre centenas de carros de passeio, muitas picapes, algumas motocicletas e poucos caminhões, há quase duas décadas venho realizando, profissionalmente, avaliações de veículos. Os ´test-drives´ variam entre rápidos momentos, aonde algum fabricante convida para um evento de lançamento e ali decorre-se a apresentação técnica com ênfase em aspectos do motor, caixa de câmbio, suspensões, arquitetura interna, conjunto eletrônico, tecnologias embarcadas, itens de série, pacotes de segurança, opcionais, design externo, padrão de acabamento interno, preço, perspectivas de vendas e análise do mercado ligado àquele segmento específico, dentre outros detalhes.
Além dessa apresentação em moldes tradicionais, as montadoras também me enviam veículos para testes mais longos, que duram, geralmente, uma semana, podendo se estender um pouco mais. É justamente nesse segundo caso que é possível fazer uma avaliação muito mais assertiva do produto, pois o uso no cotidiano real possibilita uma visão quase plena daquele determinado automóvel, reconhecendo, por exemplo, se ele é silencioso, se o sistema de som é eficaz, se a modulação dos freios é agradável, se a visibilidade pelos retrovisores é ampla ou restrita, se a potência é suficiente para deslocar a carroceria com competência, se a ergonomia foi bem trabalhada, se os bancos são confortáveis e também se aquele moderno automóvel é eficiente ou não em termos energéticos. Esse último item é o que mais me intriga.
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Não há dúvidas que os carros estão muito mais seguros, confortáveis e confiáveis que os automóveis do passado. Isso é fato indiscutível. A questão da economia de combustível é que, na minha opinião, não evoluiu o quanto deveria. Os novos projetos são mais leves, aerodinamicamente muito mais bem trabalhados, os pneus oferecem menor resistência à rolagem, os para-brisas têm ângulo de inclinação menos resistente ao ar e, por fim, o próprio sistema de alimentação oferece ignições e injeções eletrônicas extremamente mais competentes que os velhos carburadores. Sem falar das horas de avaliações em ´túneis de vento´ tradicionais e tantas outras bancadas de testes digitais que oferecem incríveis resultados matemáticos, físicos e químicos! Com tudo isso, tenho experimentado alguns carros modernos extremamente beberrões que, mesmo pouco exigidos no acelerador, não entregam mais do que 6,5 km/litro! Lembro-me nitidamente de um Voyage (versão GL, motor AP-600, ano/modelo 1986, acredito) pertencente à minha Mãe e utilizado largamente por mim. Aquele veterano Volkswagen percorria quase 10 km gastando apenas 1 litro de gasolina em percursos de cidade e na estrada era bem mais econômico do que isso. Ainda era carburado e se alimentava de um combustível muito menos eficaz do que os de hoje, sem falar da aerodinâmica precária em relação aos dias atuais.
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Em 2008 o Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) criou o Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular (PBEV), adotando uma metodologia que mede o nível de consumo dos carros e os classificam numa tabela com graduação de ´A´ até ´E´, orientando o consumidor com um selo que mostra o resultado de maior ou menor eficiência no consumo de combustível. A maioria dos fabricantes continua divulgando o consumo dos seus carros em ciclos mistos (cidade/estrada), mas esses resultados quase sempre são incompatíveis à realidade do dia a dia, dado que existem enormes variações de clima, topografia, modos de condução, qualidade dos combustíveis, desgaste de pneus e outros fatores. Os carros evoluíram bastante, mas nesse aspecto, a indústria automotiva parece que não conseguiu acompanhar os outros parâmetros. Conjuntos híbridos da atualidade é que estão conseguindo elevar esse ponto em favor dos fabricantes. No frigir dos ovos, os carros modernos, infelizmente, não são tão econômicos como deveriam ser… (Fotos: divulgação Agência FBA / Instagram: @acelerandoporai.com.br)