Há mais ou menos 70 anos, no início do desenvolvimento da indústria automotiva no Brasil, os automóveis eram feitos basicamente de ferro, aço, plástico, borracha, alguns tipos de tecido e também, madeira. Não vamos esquecer do famoso ´Galalith´ (galalite, no Brasil), um material plástico sintético também muito presente nos carros antigos. Por dentro, os veículos limitavam-se às versões ´standard´ e ´luxo´ e as diferenças ficavam apenas em tipos de tecido, coloração dos vidros (verdes ou fumês escuros no lugar dos transparentes ou ´brancos´) e alguns frisos externos.
Os carros sempre foram estigmatizados como grandes vilões da natureza, tanto pela poluição oriunda dos seus motores a combustão, quanto pelos resíduos finais após a vida útil e descarte. Ao longo de todo esse tempo, as coisas mudaram muito! A começar pela pintura. Hoje já existem as chamadas ´tintas ecológicas´, bem menos nocivas quimicamente e pouco dependentes de água na composição. A cada dia os materiais reciclados e naturais passam a integrar-se aos conjuntos automotivos.
O chamado ´couro sintético´ avança tomando o mercado do couro bovino tradicional, largamente utilizado nos veículos até hoje. Desenvolvido pela Toyota, o ´SoftTex´ é um material sintético apropriado para assentos, projetado para resistir ao desgaste da tração e ao derramamento de líquidos. O ´Econyl´, uma poliamida reciclada, hoje é largamente utilizada pela marca alemã Audi. No mercado italiano e global desde 1972, a empresa italiana ´Alcântara´ alcançou enorme sucesso com o seu tecido de microfibra feito de poliéster e poliestireno e que tem o mesmo nome da marca. O charmoso Alcântara hoje está presente em praticamente 100% dos carros esportivos de alto luxo do mundo.
Já o ´Eucalyptus Melange´, uma versátil e elegante camurça oriunda das fibras dessa árvore, também está em alta pelo enorme teor de reciclagem e baixo impacto ao meio ambiente. Mesmo caso da ´viscose de bambu´, que a Rolls-Royce tanto utiliza nos seus imponentes automóveis. O ´Kenaf´ (planta tropical da família do algodão) hoje é utilizado pela norte-americana Ford nos batentes das portas do seu modelo Escape, e as espumas de poliuretano à base de soja são muito aproveitadas para encostos de bancos. Falando neles, há muito tempo que a Mercedes-Benz começou uma experiência com fibras de côco para dar firmeza aos assentos dos seus magníficos carros. Além de todas essas novidades invisíveis, ainda há um enorme aproveitamento de garrafas PET recicladas, e restos de redes de pesca de nylon, tudo reaproveitado e com cheirinho de novo naquele carrão zero KM exposto na concessionária mais ´premium´ que você possa encontrar.
Com essa postura, os fabricantes ganham com custos mais baixos de produção, aproveitam a ´reciclagem da reciclagem´ agredindo menos a natureza e ainda ficam bem nas questões de proteção ao meio ambiente, com foco nos baixos impactos quando o veículo torna-se inservível e tem que ser, de algum modo, descartado. (Fotos: Jaguar/Rolls Royce / Instagram: @acelerandoporai.com.br)