Sempre que estou pedalando nas minhas máquinas maravilhosas (Caloi Aluminum 1994 e Monark Barra Circular 1983), fico pensando na saúde desse velho planeta surrado que já oferece morada para quase 8 bilhões de pessoas. E vale lembrar: cada uma delas faz xixi e cocô! A Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, calculou (média mundial) que um ser humano que vive 75 anos, deixa um rastro de 10,8 toneladas de fezes para trás e alguns milhares de litros de urina, também. Parte desses fétidos resíduos é transformado quimicamente por intermédio de sistemas de tratamento de esgoto e mais da metade (!!!) reincorpora-se diretamente à natureza, já que 4,5 bilhões de habitantes não possuem banheiros ligados ao sistema de ´saneamento básico´, ou seja, os dejetos são depositados irregularmente em rios, lagos e oceanos.
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Há biólogos que afirmam que quase todas as fontes d´água da Terra possuem algum nível de contaminação seja de lixos orgânicos, como de metais pesados, assim como tem gente que jura que já não há mais nenhum peixe 100% saudável para o consumo humano. Nesse mesmo contexto, também suspeita-se que o fabuloso “Aquífero Guarani” (um gigantesco rio subterrâneo de 1,2 milhão de km² e que passa pelo Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina) esteja parcialmente contaminado. Falei das minhas adoráveis bicicletas veteranas e agora entro nas temíveis emissões de CO2, que dizem ser responsáveis por 60% do chamado efeito-estufa.
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A coisa é mais ou menos assim: estamos aqui embaixo (nas estradas, céus e mares) expelindo na natureza (atmosfera) o resíduo da queima de motores movidos a combustão fóssil. É como se um gigante do conto de fadas soprasse CO2 num balão mais gigante ainda! E o que alguns estudos científicos (que não sabemos, de fato, se são reais ou fictícios) constatam é que esse mesmo CO2 é acumulativo lá acima das nuvens. Uns falam em um século de represa gasosa e outros arriscam dizer que a nossa atmosfera ficará poluída por, no mínimo, 200 anos! Será que um dia tudo vai explodir?
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O ciclo do petróleo (iniciado com o primeiro poço perfurado na Pensilvânia/EUA em 1859) foi o responsável pela transição radical na troca de obtenção de energias primitivas (queima de madeira e óleo de baleia, as mais comuns dos séculos 15 e 16, por exemplo) pela presença da energia elétrica oriunda em grande parte pelo esforço de enormes motores alimentados por derivados de petróleo. Foi o petróleo e o seu gás que começaram a aquecer adequadamente o mundo, e a refrigerar e conservar alimentos, também. Foi a queima de petróleo que viabilizou a agricultura em larga escala, que interligou os continentes com navios e aviões, que possibilitou a vitória dos Aliados na II Grande Guerra (japoneses e alemães perderam batalhas por desabastecimento de suas frotas militares) e, enfim, foi o petróleo que enricou a humanidade nessa sua primeira fase de modernização. Como já escrevi outras vezes, o panorama atual (regido por leis antipoluição ambiental e também por discursos histéricos ´politicamente corretos´ e nem sempre baseados em fatos reais) está pressionando principalmente a cadeia automotiva a abandonar o ciclo do petróleo e migrar para energias mais limpas. O problema é que – apesar de aparentarmos modernidade – ainda somos atrasadíssimos em acúmulo de novas energias. Há sol em abundância, mas ainda não é possível guardar força por muito tempo em células fotovoltaicas, assim como a energia eólica ainda não é “estocável”, como comentou, há anos, a inesquecível ex-presidente Dilma Roussef. Os carros a combustão continuam levando a maior culpa pelos cuspes de poluição, mas volto a dizer: trens, motos, aviões e navios poluem muito mais, até porque os sistemas de filtros catalizadores (exaustão) e também de injeção de combustível, evoluíram muito mais nos carros do que nos outros meios de transporte.
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Tudo bem… os elétricos já chegaram, mas suas baterias são pesadas, nocivas e ainda não têm descarte adequado. Os carros a hidrogênio são ótimos, pois expelem água e oxigênio por canos de plástico, mas a eletrólise (para se obter hidrogênio líquido) demanda um gasto absurdo de energia elétrica, nem sempre de origem limpa. Os veículos movidos a GNV (gás natural veicular) seriam uma ótima opção se tivessem motores com projetos adequados de fábrica. Nem a melhor das adaptações consegue tornar-se eficiente: parte do GNV é jogado fora sem ser queimado. Dá até para sentir o cheiro dele saindo pelo cano de escape. O etanol, o maravilhoso álcool etílico, nunca se viabilizou como deveria e os segredos da energia atômica jamais foram popularizados, certamente pelo risco da transformação da tecnologia em perigosas armas. Existem, também, os novos combustíveis sintéticos (não derivados de petróleo) que estão em evidência por causa da escassez e alta de preço do ´ouro negro´, gerados pela guerra da Rússia contra a Ucrânia. Não é magia ou fake news: a partir do hidrogênio e dióxido de carbono, cientistas já conseguem fabricar “gasolina” e “óleo diesel” sintéticos que queimam bem num Fusca dos anos ´1940 e num Porsche de última geração sem a necessidade de qualquer transformação nos seus motores e, com um detalhe: poluindo quase 80% menos! Restam, então, os veículos com propulsão a ar-comprimido e as bicicletas. Conheci no Salão de Frankfurt (Alemanha) em 2011 o Peugeot 2008 Hybrid Air, carro maravilhoso com tecnologia limpa e barata que funcionava, em parte, com ar-comprimido. Nunca foi adiante…
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O lobby do petróleo ainda é fortíssimo e a política global está cada vez mais infantilizada e sem controle. Tenho a ligeira impressão de que a nova transição do petróleo para outras formas mais limpas de energia ainda vai demorar muito. Coisa a se filosofar pedalando pela linda orla de Maceió… (Fotos: agência FBA / Instagram: @acelerandoporai.com.br)