buru-rodas

Lei Seca: necessária e eficaz

Em vigor desde 2008, Lei 11.705 colabora com a diminuição de quase 50% dos acidentes no Brasil

Muito provavelmente, não há um termômetro social que avalie a boa educação de um povo com maior assertividade do que o comportamento no trânsito. Os parâmetros são vários, a começar, por exemplo, pela (falta de) paciência. Se o sinal ficar verde e o carro à frente não se movimentar imediatamente… já viu, né? A buzina vai soar com força e, quem sabe, palavrões invadirão o mundo com a fúria de um terremoto! O saldo do péssimo trânsito brasileiro ainda deixa anualmente um rastro macabro de cerca de 38 mil mortos, quase 200 mil pessoas sequeladas para o resto da vida e/ou indivíduos qualificados como ´inválidos´ pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). O prejuízo aos cofres públicos brasileiros, segundo levantamentos anuais dos Detrans e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) chegam a passar de R$ 50 bilhões/ano!

Na escola dos anos ´1970 a gente aprendia a musiquinha: “Vermelho é perigo, amarelo é atenção. O verde quer dizer: passa sem preocupação!”

Os motivos da barbárie veicular são um somatório de fatores: stress familiar ou de trabalho que respinga na condução, consumo de álcool e outras drogas, má sinalização das vias, contato tardio com o comando de qualquer tipo de veículo e consequente inaptidão para guiar, celular ao volante e imprudências dos mais estranhos tipos. No Brasil, em média, a cada 20 minutos uma pessoa morre num acidente de trânsito, seja ela motorista, passageira ou pedestre. Estamos enquadrados entre os cinco piores países nesse sentido. Nigéria, Índia e China conseguem ser ainda mais estúpidos do que nós nesse aspecto, segundo dados da OMS (Organização Mundial de Saúde). O que esperar de um lugar aonde motoqueiros podem circular descalços, sem punições previstas no Código de Trânsito Brasileiro? Enfim… o cenário é tão psicodélico quanto um disco do Pink Floyd dos anos ´1960! Conhecida como “Lei Seca”, a Lei 11.705 completará 14 anos em 19 de junho de 2022. Desde 2008 que ficou estipulado que “dirigir após o consumo de álcool é uma infração gravíssima, com multa no valor de R$ 2.934,70 e suspensão do direito de dirigir por um ano”. Caso ocorra a reincidência da infração no período de até 12 meses, a multa é aplicada em dobro e sobe para R$ 5.869,40. E quem se recusar ao fazer o “teste do bafômetro” ou seja, quem não quiser passar pela aferição do ´etilômetro´, também é considerado um infrator e será enquadrado nas mesmas penalidades. Se o teste indicar concentração igual ou superior a 0,3 miligrama de álcool por litro de ar alveolar, a conduta passa a ser considerada crime, com pena prevista de detenção de seis meses a três anos, multa e suspensão da CNH (carteira nacional de habilitação) ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

Se for dirigir, não beba. Se for tomar um chopp gelado, me chame que eu vou de táxi!

Desde 2008 que Detrans e IML´s (Instituto Médico Legal) atuam em conjunto levantando preciosos dados que mostram a realidade do trânsito brasileiro. Muita gente ainda comete os mesmos erros e são flagradas em estado de embriaguez alcoólica ou de entorpecimento por causa de alguma outra droga lícita ou ilícita. Quase 45% dos acidentes envolvendo vítimas fatais exibem um triste histórico de irresponsabilidade dos motoristas que haviam consumido álcool, algum tipo de psicotrópico para ansiedade ou ainda cocaína (que causa euforia) ou maconha (que gera sonolência). Outra barbaridade presente nesse circo de feras é o famoso “rebite” ainda utilizado em larga escala por motoristas que querem ficar acordados por mais tempo. São os ´benzodiazepínicos´ que, misturados com refrigerante gelado e café bem quente, dão uma sensação de esperteza e vida, só que o efeito cessa bruscamente causando o tão temido ´apagar ao volante…´

A escolha de dirigir após beber pode gerar multa de até R$ 5.869,40, além de detenção de 6 meses a três anos!

Apesar de todas essas maluquices cometidas por gente irresponsável, a Lei Seca – sempre tão criticada por impor ´tolerância zero´ – tem ajudado na diminuição de acidentes e suas trágicas consequências. Infelizmente, a realidade do trânsito do Brasil está envolta numa névoa de buzinas histéricas, trancões furiosos, excesso de velocidade, palavrões e até tiros, socos e pontapés! Os órgãos de trânsito não deixam de tentar melhorias via campanhas educativas e algumas prefeituras também se engajam em ações para clarear o panorama de um trânsito melhor para a maioria. Creio, apesar de observar o caos bem de perto, que a chegada dos veículos autônomos diminuirá bastante os acidentes. A segurança dos automóveis, aumentou. A frenagem de emergência que independe do pé direito do motorista, já é uma realidade em alguns carros. Estamos longe da perfeição, mas podemos melhorar. A Lei Seca tem feito a parte dela. Os Detrans poderiam adotar o mesmo procedimento dos órgãos que investigam acidentes aéreos, coletando dados, conversando com testemunhas e sobreviventes para se estabelecer novos padrões de segurança tecnológica e comportamento humano, que impeçam a repetição de velhos erros. (Fotos: agência FBA / Instagram: @acelerandoporai.com.br)