buru-rodas

Marcas tradicionais em agonia; chineses em pura alegria…

José Roberto Nasser, saudoso amigo e um dos grandes jornalistas do segmento automotivo em todos os tempos, sempre dizia que “em qualquer tema da vida, para entender o presente e tentar prever uma fresta de luz do futuro, é preciso investigar as minúcias do passado”. Nas nossas conversas ele usava essa citação referindo-se, também, ao segmento automotivo e, principalmente, aos detalhes intrigantes dos carros antigos.

Se você gosta de automóveis, segue uma dica: para entender o forte movimento que envolve o desenvolvimento dos automóveis chineses e o crescimento das exportações de veículos da China para o restante do mundo, pesquise o passado ligado aos carros daquele país.

O segmento automotivo da China tem praticamente a mesma idade do setor aqui no Brasil. Eles também iniciaram as atividades nos anos ´1950. Por aqui, algumas marcas que já eram conhecidas lá fora começaram as operações do tipo ´CKD´, com partes desmontadas importadas e remontadas em solo brasileiro, assim como chegavam veículos já prontos vindos, principalmente, dos Estados Unidos. Logo depois, pioneiramente, a Ford começou a fabricar no Brasil, abrindo o caminho para outras montadoras.

O nosso país limitou-se a reproduzir projetos criados lá fora, construídos aqui com padrão de qualidade inferior. Exemplo disso foi o Volkswagen Voyage que, em processo de preparação para ser exportado aos Estados Unidos (rebatizado com o nome de Fox), teve que sofrer centenas de alterações construtivas para conseguir a homologação para vendas externas.

A diferença básica do Brasil para a China, nesse aspecto, é que eles ousaram imitar e aperfeiçoar produtos de sucesso. Há vários casos, no entanto, de ´plágios´ chineses descarados, evidenciando a falta de ética de alguns fabricantes asiáticos. Por exemplo, a chinesa Zotye Auto criou o modelo ´SR9´, que é uma cópia do Porsche Macan. A marca Weikerui fez o V7 um carro elétrico compacto que é um clone do Volkswagen Up! O modelo 320 da Lifan não passa de uma caricatura de mau gosto do MINI. Já o Landwind X7 é uma imitação descarada do Range Rover Evoque… e, talvez a mais aberrante cópia seja o Geely Merrie 300, que é muitíssimo parecido com um Mercedes-Benz Classe C. E ainda existem muitas outras cópias de veículos ocidentais rodando livremente na China. Só que tudo isso ficou para trás. A indústria automotiva chinesa conseguiu, enfim, se igualar e até superar muitas empresas tradicionais globais em padrão construtivo e até em valor de marca nas cotações das Bolsas mais importantes do mundo.

Dois pontos específicos ampliam a vantagem dos chineses perante a concorrência: a extensa garantia e o preço final ao consumidor. Essa semana pude testar novos e interessantes produtos chineses: o OMODA E5 e o JAECOO 7, respectivamente, um crossover compacto 100% elétrico e um SUV médio de luxo com propulsão híbrida. Ambos bonitos no estilo, acertados em ergonomia, com bom padrão de acabamento, vasta garantia, enorme pacote tecnológico e preços bem competitivos. Excelentes carros que me geraram ótimas impressões.

A conclusão que se chega é que a briga agora está equiparada, com forças iguais. É nítida a preocupação de marcas ocidentais famosas diante desse novo panorama, pois elas estão perdendo mercado e sendo constantemente pegas de surpresas ao constatar que já não existem mais clientes fiéis à uma ou outra marca tradicional como antigamente. O pique chinês tem se mostrado devastador em vários mercados importantes, um deles, o Brasil. Muitas marcas conhecidas não estão conseguindo acompanhar os passos chineses e seguem amargando até a possibilidade de falência.

Incontestavelmente, os chineses já emparelharam junto aos grandes da indústria global automotiva. Começaram, sim, tropeçando e copiando, mas, as marcas realmente sérias que decidiram prosseguir com profissionalismo, agora fabricam veículos nivelados por cima em relação às empresas ocidentais mais famosas e de maior credibilidade.

No meu ponto de vista, a única questão que ainda se encontra ´em aberto´, refere-se à existência da liquidez dos veículos importados chineses (principalmente os 100% elétricos) quando eles se encontrarem na condição de carros usados e já fora da garantia. Essa resposta do mercado – que será a ´prova de fogo´ para a indústria chinesa – e suas consequências, nós somente saberemos lá pelo ano de 2029… (Imagem: Microsoft Designer Creator IA / Instagram: @acelerandoporai.com.br)