buru-rodas

O tilintar do meu Fusca e o impacto visual de um belo Rolls-Royce!

Carros antigos podem gerar dores de cabeça, mas essa paixão irrefreável suplanta todas as intempéries...

Sanduíche de pepino não oferece lá um sabor muito interessante, mas no Reino Unido é tido como um lanche elegante. E há quem goste! Faço um paralelo com os carros antigos: é uma paixão mais dispendiosa que apostas em corridas de cavalos, dá um trabalho medonho de manutenção e, no fim das contas, o custo-benefício é decepcionante. Mesmo assim, há quem curta! E eu sou um deles.

Nasci gostando de carros, principalmente dos antigos. Meus primeiros contatos com veículos diferentes dos que eu via rodando no meu bairro, chegaram por algumas revistas e também pela figura notável de Mário Raul Armando Leão, o ´Mariozinho´, ex-industrial do ramo sucroalcooleiro e que, mais tarde, tornou-se meu amigo por causa do setor automotivo.

No final dos anos ´1970, vi pela primeira vez ao vivo (e de perto) um Rolls-Royce! Fiquei estático ao lado do meu Pai, admirando um lindíssimo Rolls-Royce modelo Silver Dawn de 1950 com a pintura completamente preta e cromados reluzentes. Esse impactante automóvel de propriedade de Mário Leão até hoje, pairava em frente ao saudoso restaurante ´Fornalha´, em Maceió.

Foram as linhas sinuosas, o estilo clássico e a imponência majestosa daquele veículo inglês, que despertaram em mim, para sempre, a admiração pelos carros antigos. Jamais esqueci desse dia! Tempos depois, já inoculado pelo implacável vírus do antigomobilismo, consegui colocar alguns carros antigos na garagem, dentre eles um Fusca Itamar de cor branca, versão standard, ano 1995, com motor de 1.600 cilindradas a gasolina e equipado com os famosos carburadores duplos da marca Solex.

Oposto extremo de um Rolls-Royce, esse Fusquinha, tão espartano quanto uma embarcação viking do século IX, tem me servido de laboratório mecânico e, mais ainda, válvula de escape de stress há quase vinte anos. Nele tenho exercitado pequenos momentos de restauração e manutenção. A carroceria de qualquer Fusquinha com pintura original, caso do meu, e que seja exposto à maresia, tem uma forte tendência a enferrujar, exibindo minúsculas ´varizes´ que vão se entranhando silenciosamente na carroceria. A contenção dá-se com uma mistura de cerveja gelada com música do Pink Floyd, uma lixa d´água e algumas gotas de tinta específica para o combate à corrosão.

Com carisma gigantesco e mecânica simplória, o Fusquinha tem pequenos segredos, como por exemplo: existem três estágios para se realizar uma troca de óleo correta, mas 99% das pessoas acessam somente a primeira fase. Em dias de sol ou de chuva, finais de semana ou horas vagas, tiro o meu Fusca da cartola e me entrego ao prazer do tilintar do seu incrível motor refrigerado a ar.

O belo Rolls-Royce Silver Dawn 1950 que vi quando menino e tive o prazer de fazer uma matéria sobre ele, décadas depois!

Outro mistério dos Fusquinhas: apesar dos arredores quentes como o subsolo do inferno, a base dos carburadores na junção com o coletor de escapamento, funciona tão gelada a ponto de suar gotinhas d´água! Parece conto da carochinha, mas é verdade. Meu Fusca não é Rolls e nem é Royce, mas é o meu divã, aonde sonho de degrau em degrau, chegar a um Porsche… (Fotos: divulgação Agência FBA / Instagram: @acelerandoporai.com.br)