Em meio à revolução cultural dos anos 1960, enquanto a América se projetava para o espaço e digeria o trauma do assassinato presidencial, Robert Rauschenberg criou uma das obras mais emblemáticas do século XX. “Retroactive I”.
Artista entre mundos >> Robert Rauschenberg (1925-2008) ocupou um lugar único na história da arte, servindo como ponte entre o expressionismo abstrato dos anos 1950 e a Pop Art que dominaria a década seguinte. Suas ´combinações´ – obras que misturavam pintura e objetos tridimensionais – desafiaram categorias artísticas tradicionais. Com “Retroactive I”, Rauschenberg consolidou sua reputação como um dos artistas mais inovadores e influentes de seu tempo.
Essa pintura é uma colagem vertiginosa de imagens serigrafadas e intervenções pictóricas que captura o ritmo frenético da América dos anos ´1960. Ao centro da composição está o presidente John F. Kennedy, durante um de seus discursos, apontando enfaticamente com o dedo – uma imagem capturada antes de seu assassinato em novembro de 1963, mas incorporada à obra no ano seguinte. Ao lado da figura presidencial, Rauschenberg posicionou um astronauta descendo de paraquedas, fazendo referência direta à corrida espacial que atingia seu ápice naquele momento.
Entre essas imagens principais, Rauschenberg incorporou fragmentos tecnológicos, incluindo partes de motores e veículos, criando uma narrativa visual fragmentada sobre velocidade, progresso e mecanização. Uma reprodução parcial de uma obra do pintor renascentista Rubens e uma imagem de uma taça de água sendo derramada completam esta intrincada composição.
Curiosidades
– O nome “Retroactive I” foi escolhido com precisão, pois a obra olha para eventos recentes através de uma lente que já os percebe como história. O ´retroativo´ também sugere como novas tecnologias e eventos alteram nossa compreensão do passado.
– Rauschenberg adotou a técnica de serigrafia aproximadamente no mesmo período que Andy Warhol, mas cada artista desenvolveu abordagens distintas. Enquanto Warhol explorava a repetição e produção em massa, Rauschenberg utilizava a técnica para criar composições mais complexas e texturais.
– Em 1964, Rauschenberg tornou-se o primeiro artista americano contemporâneo a ganhar o Grande Prêmio da Bienal de Veneza, um feito que sinalizou a ascensão global da arte norte-americana. “Retroactive I” foi criada durante este período transformador de sua carreira.
– Rauschenberg permitiu que o fotógrafo Hans Namuth documentasse seu processo criativo, revelando como ele trabalhava com rapidez e intuição, frequentemente incorporando erros técnicos e acidentes como elementos das obras finais.
– A imagem central de Kennedy foi extraída de uma transmissão televisiva de um debate presidencial, posteriormente impressa na revista LIFE, exemplificando o ciclo de reprodução de imagens que fascinava o artista.
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