O universo dos carros elétricos continua a gerar polêmicas a partir de discussões sobre os temas que envolvem a preservação e os cuidados com o meio-ambiente. Afinal de contas: essa nova onda é ou não, de fato, ´verde´ e boazinha com o nosso planeta? A questão é que, simplesmente, ninguém pode responder isso com exatidão ainda, assim como no conjunto dos discursos climáticos (histéricos ou racionais) e em tantos “dados” (fictícios ou reais) que recebemos pela “mídia” (fake ou responsável), há hiatos, narrativas, desconexões com a realidade e até interesses geo-políticos que dão o tom dessa seara tecnológica e social mais esdrúxula do que um fim de festa de manhã em New Orleans após um porre de absinto!
O que tenho a dizer, a partir da minha paixão por automóveis e das pesquisas que faço tanto na internet como com engenheiros mecânicos ligados a esse setor, é que os veículos (carros, motos, ônibus e caminhões) sempre estão mais em evidência como os grandes vilões da poluição somente pelo fato deles circularem mais de perto entre nós. Se você nunca viu um motor de navio funcionando lá na casa de máquinas, sugiro que tente conhecer. O YouTube pode te apresentar esse espetáculo. Um bloco de motor de um navio tem o tamanho de um pequeno prédio de quatro andares (tipo ´caixote´ de engenharia dos anos ´1980), seus pistões são gigantes, assim como bielas, virabrequim, etc… Uma ´piscina´ enorme de óleo lubrificante fica à disposição para azeitar todas as engrenagens. Nem queira saber o tamanho do tanque de combustível! Um navio é um monstro poluidor da atmosfera, mas que passa navegando poética e longinquamente lá no alto mar, bem longe dos nossos narizes e olhos… Um avião bimotor com turbinas gigantes consegue decolar com dezenas de toneladas de carga e voar por horas seguidas. Um voo de uma aeronave de grande porte entre São Paulo (Brasil) e Frankfurt (Alemanha) dura umas 11 horas. São quase 10 mil quilômetros de distância com os motores consumindo milhares de litros de ´querosene de aviação´ e cuspindo (às vezes até lindamente com as trilhas de condensação) o refugo de toda essa ferocidade motorizada nas belas nuvens branquinhas que decoram um cintilante céu azul. Multiplique isso por milhares e adicione locomotivas movidas a óleo diesel, motocicletas velhas que ainda usam carburadores, motoserras, frotas civis e militares e milhares de motores estacionários que funcionam como geradores de energia e outras tantas usinas termoelétricas que queimam carvão (!!) ou diesel para abastecer cidades luz elétrica. Dá para perceber o tamanho do problema?
Sim: começar a transição (da diminuição das emissões) pelos carros elétricos é um bom (e necessário) caminho, mas é preciso amadurecer o papo, olhar outras possibilidades. Os combustíveis sintéticos (chamados eFuels) – não derivados do petróleo – já estão em fases finais de testes. ´Gasolina e óleo diesel´ desenvolvidos pelas empresas Siemens, Porsche, Enel, AME, ENAP e ExxonMobil conseguem funcionar bem num motor de um Fusca dos anos ´1940 e numa Ferrari de último tipo. E o melhor: poluem cerca de 80% a menos que um combustível comum de origem fóssil. Vamos adiante! As tecnologias estão aí e a briga pelo mercado é o melhor que pode acontecer. O ponto fulcral da questão é que todo esse emaranhado complexo não pode se resumir ao fato de algum astro de Hollywood ser considerado o salvador do mundo por utilizar um ´carrinho elétrico verde´. E o jatinho desse mesmo astro, queima o quê quando está voando…? Como se fosse uma mandala de gases poluentes, infelizmente estamos conectados nessa teia. Portanto, vamos com calma, pois os grandes vilões da poluição global, definitivamente, não são somente os carros. Muita gente hipócrita deveria calar a matraca e começar a usar somente os pés e a bicicleta para resolver as suas agendas cotidianas. Mas o charme motorizado é bem mais atraente. Elétrico ou a combustão, o ponto xis da questão, o buraco profundo desse tema, fica bem mais embaixo… (Fotos: Google free royalties / Instagram: @acelerandoporai.com.br)
